Não Mexa Nos Pertences dos Mortos

Era tarde de uma terça-feira ensolarada em Goiás e Gregório estava no velório de seu avô, que era como um segundo pai para ele, sempre esteve ao seu lado em todos os momentos.  
Gregório tem 19 anos de idade, mora com sua mãe em Goiás. Possui a pele bronzeada do sol, cabelo curto, liso, na cor marrom e seus olhos azuis e pequenos. Tem um temperamento médio, dificilmente se estressa. Começou trabalhar cedo para ajudar sua mãe como Moto Taxista. Adora jogar futebol nas horas livres.
Ao lado do caixão de seu avô, Gregório se encontrava abatido, não conseguia imaginar próximos dias sem seu melhor amigo. Todos que se aproximavam para conversar, ele dizia que não queria.
Algumas horas depois chegou o momento de enterra-lo. Foi aí que sua ficha começou a cair, foi aí que percebeu quem fora. Aos prantos, ajudou a levar o caixão pois queria ficar ao lado até o último momento. Após algumas caminhadas chegou ao destino e então ele apenas abraçou sua mãe e se despediu de seu melhor amigo.  
Passaram-se alguns dias e a família se reuniu para conversar sobre a casa e os pertences de Paulo. 
Gregório foi o primeiro a chegar. Não queria entrar na casa, mas queria estar ali para cuidar das coisas de seu avô. 
Aproveitando que não tinha ninguém ainda, entrou no quarto de Paulo e entrou aos prantos. Sentou-se na cama, fechou os olhos e então em sua mente veio todos os bons momentos com ele. Após se acalmar, foi para a sala pois não queria que ninguém achasse que foi cedo para roubar coisas. Alguns minutos depois quase todos chegaram, ainda faltavam sua tia Geni e seu primo Adriano. 
Ao chegarem, se desculparam pelo atraso e então a reunião começou. Gregório foi o primeiro a dizer algo, pedindo para que lembrassem do valioso relógio de seu avô, para que guardassem pois era o único objeto que ele foi apegado. Adriano achou uma baboseira, mas só escutava. Depois de decidirem o que fariam com as coisas, foram cada um fazer a sua parte.   
Enquanto Adriano pegava as roupas para guardar, viu o relógio e com cautela, guardou em seu bolso. Por ser neto, achava que tinha direito também e depois de guardar, tornou à ajudar seu primo Gregório.  
Quando tudo estava guardado, pediram para que Gregório buscasse o relógio pra que decidissem o destino, mas ao abrir a caixa, viu que estava vazia e ficou desesperado. Imediatamente foi perguntar quem sabia do sumiço.
 Alguém sabe onde está? Ele sempre deixou nesta caixa, nunca trocou de lugar! – disse triste.  
 Não sabíamos nem onde ele guardava, muito menos que sumiu. Qual foi a última vez que você viu? Estava aí? – perguntou uma de suas tias.  
 Estava, tia. Eu o vi guardando! – respondeu. 
Ninguém sabia onde estava. Adriano se esforçou ao máximo para que não fosse descoberto. Então ele vasculhou toda a casa, mas não encontrou em lugar algum. Ficou triste e pediu para deixarem ele olhar antes de venderem a casa, todos concordaram.   
Depois de terminarem, foram todos embora. Ao chegar em casa, Adriano foi para seu quarto, trancou a porta, pegou o relógio e ficou olhando por alguns minutos e sentindo uma grande saudade de seu avô. Depois de ter um tempo com o objeto, foi até sua mãe e contou tudo. Sua mãe lhe apoiou e concordou que ele também tem seus direitos. 
Gregório foi para sua casa em uma imensa tristeza. Foi para o quarto e lá ficou o dia todo. Pensava e pensava onde poderia estar o relógio. Não pensava em ninguém que pudesse ter pego, sabia que não fariam isso. Acabou adormecendo e acordou de madrugada com fome. 
Levantou, foi ao banheiro lavar o rosto e em seguida para a cozinha. Preparou um lanche e bebeu leite com chocolate. Enquanto comia, a saudade batia e a vontade de chorar era imediata. Após terminar de comer, foi para o computador jogar até o sono vir. Quando foi dormir, já era 04h00. Mais tarde acordara na hora do almoço. Tomou banho, se vestiu e foi para a cozinha. Apenas comeu salada e bebeu suco de laranja. Após o almoço, foi preparar suas coisas para ir trabalhar. Quando tudo pronto, pegou as coisas e foi. Ao chegar no ponto foi consolado por seus colegas de trabalho. Colocou seu capacete no sofá e ficou esperando a primeira corrida do dia. Não demorou muito e os telefones começaram tocar.
Gregório pegou sua moto e iniciou as corridas.
Adriano guardou o relógio e foi para o banho. Enquanto esfregava o shampoo, pôde sentir uma mão em sua nuca. Se assustou, mas depois achou que era coisa de sua mente. Logo saiu do banho e foi para seu quarto. Enquanto se trocava começou sentir um frio anormal, um frio que sua cidade quase não tem, achou que podia estar com febre, mas logo o calor voltou. Depois de vestido, deitou em sua cama e caiu em sono profundo.
Adriano tem 17 anos de idade. Mora somente com sua mãe na cidade de Goiás. Possui cabelos da cor castanho escuro, curto e ondulado, com os olhos castanho claro. Seu temperamento é médio, age impulsivamente. Está no último ano do ensino médio e seu passatempo é jogar videogame.
No dia seguinte, acordou cedo para ir à escola. Levantou, tomou um breve banho, colocou seu uniforme e tomou café da manhã. Pegou sua bicicleta e foi para a escola. Ao entrar na sala e pegar seus devidos materiais, percebeu que seu caderno estava com folhas totalmente rasgadas. Achou que foi descaso de sua parte e tornou a organizar sua mesa.  
Logo o professor chegou e depois de alguns minutos a aula começou. Sua manhã foi normal como qualquer outra.  
Durante o caminho de volta, sentiu novamente uma mão em sua nuca. Parou na hora e olhou para trás, porém não havia ninguém por perto. Com um certo medo, acelerou e logo chegou.  
Ao entrar em sua casa, jogou a bicicleta na área e entrou. Sua mãe percebendo, perguntou o que aconteceu, mas deu uma desculpa qualquer. Foi para seu quarto e ficou pensando no que acontecera, porém logo deixou pra lá e foi fazer suas coisas. Tomou banho, almoçou e foi fazer tarefa escolar. Após terminar, foi para o videogame e ficou durante o dia todo.  
Durante a madrugada, Adriano sentiu mãos em seu ombro e acordou suando frio. Ficou sentado em sua cama tentando encontrar um motivo de estar acontecendo tudo isso e após alguns minutos tentando se recuperar, ao olhar para a porta, viu uma sombra de um homem parado. Deitou cobrindo completamente o seu corpo e com os olhos fechados tentava ouvir algo, mas o silêncio era perturbador, nem mesmo sua respiração ofegante podia escutar, era um silêncio de outro mundo. Com medo, Adriano ficou debaixo da coberta por bastante tempo até que percebeu através de sua coberta, que já estava amanhecendo. Lentamente foi tirando a coberta de seu rosto e ao perceber que estava tudo calmo, se descobriu e levantou para acender a luz. Tornou a deitar e logo dormiu.  
Algumas horas depois acordou com sua mãe lhe chamando para ir à escola. Com muito esforço se levantou e foi se arrumar.  
Durante todas as aulas dormiu sem que os professores percebessem. Logo, para o seu alívio, deu a hora de ir embora.  
Já em sua casa, foi para o seu quarto jogar. Enquanto jogava, seu videogame desligou e ligou sozinho. Fingiu ser problema de energia e voltou à jogar. Mais tarde, ao terminar o jogo, quando desligou a televisão, havia a imagem de um homem atrás, quase próximo, então sem pensar saiu dali às pressas dizendo para a sua mãe que ia para a casa de um amigo. Ficou o resto do dia e voltou antes do anoitecer.  
Tomou banho, jantou e foi – com medo – para o seu quarto. Entrou e ligou o computador para tentar se distrair, mas logo o sono veio e resolveu dormir mesmo sendo muito cedo.  
Deitou-se em sua cama e virou-se para a direção da parede e ao fechar os olhos começou de imediato sentir a presença. Com os olhos ainda fechados, começou escutar passos se aproximando e o desespero tomava conta aos poucos de seu corpo. Logo os passos estavam atrás de si e parou. Por alguns segundos o silêncio tomou conta do local, mas quando Adriano achava que tudo voltou ao normal, sentiu em sua nuca uma respiração quente e foi indo para a sua orelha até que parasse por alguns segundos. Após alguns segundos de silêncio novamente, uma voz rouca de masculina sussurrou em seu ouvido
― Ele é meu. Só meu. Devolva-me ou estarei sempre ao seu lado. – disse a tal voz. 
Adriano imediatamente descobriu que era seu avô e o que ele estava pedindo era o relógio. Depois de ouvir tais palavras, tudo voltou ao normal em seu quarto. Levantou-se de sua cama e foi ligar para seu primo pra contar tudo.
Gregório estava em seu quarto jogando no computador quando sua mãe entra depressa com o telefone na mão dizendo que seu primo Adriano queria muito conversar com ele. Estranhando ele ter ligado, pegou o telefone.
― Oi, Adriano! Que surpresa! Como você está? – disse Gregório.  
― Eu não estou nada bem! Quero conversar com você, mas pessoalmente, tem como eu ir aí agora? – respondeu.  
― O que houve? Claro que pode! Estou te esperando. – disse Gregório completamente confuso.  
― Estou indo! – disse enquanto se vestia e desligou.  
Gregório salvou o jogo e foi para a sala esperar seu primo. Estava preocupado com o que houve. Gregório e Adriano nunca foram próximos, só se viam em reuniões e festas familiares. 
Após alguns minutos Adriano chegou e logo abraça seu primo aos prantos e pedindo desculpas.  
― Mas o que houve? Por que as desculpas? – perguntava Gregório. 
― Foi eu. Eu que peguei. Peguei o relógio. Como era meu avô, achei que tinha direito também de ficar com algo dele. Você sempre foi o querido dele, o preferido e isso sempre me irritou. Por vingança eu peguei enquanto arrumávamos a roupa dele. Perdão! Hoje eu o vi em meu quarto pedindo o relógio. Senti muito medo e achei que o certo era eu falar a verdade. – desabafou. 
Gregório apenas ficou abraçado de seu primo digerindo tais palavras. No começo sentiu uma enorme raiva, mas percebeu que não ia adiantar nada brigar com seu primo.
― Tudo bem Adriano, não precisa se desculpar! Eu entendo. Acho que teria o mesmo sentimento se fosse o contrário. Mas poderia ter me pedido, pedido para alguém. Sua mãe sabe disso? – disse tentando acalma-lo.  
― Sabe. Ela concordou comigo. – respondeu um pouco mais calmo – Ela me ajudou.  
― Acho que não vale a pena brigarmos. Já foi, já aconteceu. Espero que tenha aprendido, Adriano. – disse Gregório. 
Adriano entregou o relógio e agradeceu seu primo por ter entendido. Gregório ficou acalmando seu primo e preferiu que ele dormisse em sua casa e saísse cedo para se arrumar pra escola.  
Adriano ligou para sua casa e explicou para sua a mãe que contara toda a verdade. Ela ficou espantada e preocupada, mas sabia que seu sobrinho cuidaria bem dele.
Os dois acabaram ficando a madrugada toda conversando e Adriano se encontrava mais calmo. Jamais ele esqueceria de todo o ocorrido.

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