Uma Casa no Fim da Rua
Apenas me lembro de estar no meio da rua. Era estranha, sem vida. As folhas secas caiam de árvores que já não havia mais vida, casas abandonadas e em algumas casas as janelas estavam quebradas. Cortinas balançavam com o ritmo do vento, as portas abertas e pedaços de casas caindo aos poucos. Não haviam pessoas, era um vazio. A cada passo eu notava que parecia um cenário de guerra. Seguindo em frente avistei uma casa na qual me chamou muito a atenção. Era branca como a neve, estava totalmente intacta, como se não tivesse sido atingida. A minha curiosidade aumentou e segui em direção à casa.
Em frente à porta, tentei olhar para dentro através do vidro, mas estava tudo escuro. Ao bater na porta, ela abriu e então eu entrei. Logo pude notar o enorme silêncio que ali permanecia.
Os móveis limpos e sem arranhões me chamaram a atenção. Não entendia o porquê da casa estar tão conservada. A sala estava organizada. Segui a porta do lado direito. Era a cozinha. A mesa estava muito bem arrumada, como se alguém fosse logo jantar. Na mesa havia dois pratos, talheres. No fogão, possuíam algumas panelas. A geladeira, surpreendentemente estava cheia. Eu estava faminta.
— Por que continuava tão bela após uma "guerra"? - perguntei enquanto olhava ao redor.
Olhei para o lado e vi uma escada longa, marrom e empoeirada.
Cada degrau que eu subia, um estalo fazia. Era cansativo, mas finalmente cheguei e a primeira coisa que vi foi uma porta da cor vinho. Girei a maçaneta lentamente e abri devagar.
Era um quarto de criança. O berço estava arrumado, com o brinquedo girando e tocando uma música de ninar. Na cadeira de balanço havia uma roupa de bebê na cor verde claro com alguns peixes estampados. O guarda-roupa branco, pequeno e vazio. Olhei mais um pouco e saí do quarto. Fui para a porta ao lado. Outro quarto, mas de casal. O lençol branco sobre a cama arrumada, cortina bege e a penteadeira vermelha com alguns pinceis e perfumes, não havia foto de família. Não fiquei por muito tempo.
Abri mais uma porta. Era um banheiro todo branco e limpinho. Fiquei assustada e sai às pressas.
Entrei em mais um cômodo, o escritório da casa. Nele possuía uma mesa que tomava conta do lugar, também alguns livros, uma pasta preta e um porta-retrato sem foto, o que me fez arrepiar. Sentei na cadeira e abri a primeira gaveta, mas somente tinha canetas e lápis. Na segunda só papéis de nenhuma importância. Sem ter encontrado pista do que ocorreu por aqui, saí do escritório e fui em direção da última porta - a única branca da casa.
Ao tentar girar a maçaneta, ela não abria. Logo percebi que estava trancada, tentei várias vezes, mas nada de abrir. Segundos depois ouvi a porta da frente se abrindo, insisti em abri-la e nada. Os passos então começaram se aproximar. Senti um arrepio horrível em todo o meu corpo;
Voltei para o escritório e escutei uma voz de mulher chamando por alguém - mas quem poderia ser? - logo ela se aproximou da porta.
— Filho, cheguei! Trouxe sua comida, venha comer! - disse enquanto entrava no cômodo trancado.
— Não quero comer nada. E você não é minha mãe! - um silêncio surgiu. — Era a Senhora que não estava conseguindo abrir a porta?
— Como assim, meu filho? Eu cheguei agora! À não ser... que... Alguém entrou e está aqui - ela começou abrir todas as portas do andar e por último, entrou no escritório.
— Sinto cheiro de estranho - disse irritada.
Tapei minha boca com toda a força para ela não ouvir minha respiração ofegante. Escutei a porta se fechar com força, mas não sabia se a mulher estava dentro ou fora do cômodo. Fiquei com medo e dúvida ao mesmo tempo. Esperei alguns minutos e saí de baixo da mesa e para o meu alívio ela não estava ali.
Saí em direção e fui para a escada. O medo era tão grande que acabei tropeçando e rolei. Antes de chegar ao chão, escutei minha mãe me gritando desesperada. Abri meus olhos e ela se aliviou. Com a voz mais calma disse que já estava na hora de ir à escola. Sentei na cama e fiquei pensando no estranho sonho.
Comentários
Postar um comentário