Não Aceite Presentes de Conhecidos, Eles Podem Ser o Desconhecido
Era tarde de quarta-feira e Beatriz estava limpando sua casa. Estava de férias e queria ela mesmo limpar. Por este motivo, deu férias a moça que trabalha em sua casa.
Beatriz tem 32 anos, mora em Londrina com sua filha única. De pele branca, tamanho médio. Possui cabelo preto, médio e liso, de olhos castanho-escuros. Protetora, sempre esforçada e muito trabalhadora. Adora assistir documentários.
Enquanto sua filha estava na casa de sua amiga, Beatriz aproveitou para limpar a casa toda, pois preferiu limpar tudo de uma vez. Pegou todos os itens necessários e iniciou a limpeza. Enquanto limpava seu quarto, seu telefone tocou. Logo foi atende-lo.
― Alô! – disse ao atender.
― Maninha! Que saudades! Ainda lembra de mim? – respondeu a pessoa junto de uma risada.
― Rafaela? Que surpresa é essa? Por que sumiu desta forma? – surpresa com a ligação de sua irmã mais velha, respondeu sem total animação.
― Quanta animação ao falar comigo. – riu novamente. ― Liguei para saber como você está. Somos irmãs, afinal.
― Estou bem se é isso que quer saber. Mas e você, como está? O que anda fazendo da vida? – respondeu com uma certa desconfiança.
― Estou muito bem! Estou com minhas pesquisas como sempre, nada novo, nada que preste pra lhe contar. – disse.
― Ah! Suas pesquisas nunca acabam? – questionou-a torcendo para que ela desligasse logo.
― Nunca é demais ter conhecimento, querida irmã. Mas liguei apenas pra saber se está bem. – falou com um tom mais seco.
― Quase ia me esquecendo – pausou Beatriz - agora sou mãe. Chama-se Angélica. – falou com total felicidade.
― Vejo que aproveitou a vida melhor que eu, hein?! – riu de sua irmã. ― Parabéns, então?
― Obrigada! Se importaria em ligar mais tarde? Estou limpando a casa agora e já já minha filha chega. Que bom que está viva, irmã! Até mais! Vê se liga mais vezes.
― Logo eu tornarei a ligar, então. Até breve, irmãzinha! – falou em tom irônico.
Beatriz desligou e foi terminar a limpeza. Enquanto isso, a conversa que teve com sua irmã, repetia várias vezes em sua mente. E cada vez que pensava, se arrepiava. Achou que era coisa de sua cabeça, afinal, era sua irmã e ela não faria mal algum novamente, não é mesmo?
Rafaela, irmã de Beatriz tem 41 anos. Mora sozinha na cidade de Santos. De pele bronzeada do sol, cabelo longo preto e liso. É uma pessoa quieta, observadora, muito atenta e super irônica.
Algumas horas depois havia terminado a limpeza e sua filha Angélica havia chegado. Como estava muito cansada, preparou um jantar rápido e prático para elas. Durante o jantar Angélica contou como foi seu dia. Beatriz não quis contar sobre a ligação da irmã, não naquele momento. Depois de terminarem, ficaram na sala um pouco e depois foram dormir.
Às 06h00 Beatriz levantou-se e acordou sua filha para ir à escola. Com uma voz serena, chamou sua filha e a ajudou se arrumar. Vestiu o uniforme, prendeu o cabelo de sua filha em um rabo-de-cavalo e em seguida foram tomar café da manhã.
Conversaram um pouco e logo o transporte de Angélica chegou. Sua escola era distante e sua mãe não tinha como leva-la. Antes de começar qualquer coisa, resolveu assistir um pouco de tevê. Passaram-se alguns minutos e a campainha tocou, sem ter ideia de quem seria, atendeu. Ao abrir a porta, Beatriz se surpreendeu e logo tentou disfarçar. Era sua irmã.
― Parece que até viu um fantasma. – disse Rafaela.
― De-des-desculpa, não espera-ra-va sua visita. – gaguejou ao responder.
― Percebi. Vai me deixar aqui fora mesmo? – perguntou com a sua ironia de sempre.
― Me desculpe, entre, por favor! – falou ao se afastar da porta para sua irmã entrar.
Ao entrar, Rafaela observou a sala de sua irmã e sentiu uma breve vontade de rir, mas se segurou. Colocou suas malas ao lado de um pequeno sofá branco e sentou-se no mesmo.
― Cadê minha sobrinha? Gostaria de conhece-la, trouxe presente à ela. – disse enquanto se sentava.
― Está na escola. Vai ficar aqui por quanto tempo? Conseguiu um hotel barato? – respondeu enquanto mudava de canal.
― Vou ficar tempo o suficiente. Oras! Ficarei por aqui, com minha querida irmã. – falou enquanto soltava uma breve risada.
― Não imaginei que gostaria de ficar por aqui. Espero que goste dessa humilde casa. – respondeu friamente.
― Não se preocupe. Onde posso deixar minhas coisas? Estou cansada e quero tomar um banho bem quente e descansar. – perguntou sem esperar o café ficar pronto.
― Na terceira porta à esquerda. Fique à vontade! – declarou tais pal.
Levantou-se, pegou suas malas e foi para o quarto. Ao entrar riu de novo com a decoração. Um quarto branco, com cortinas da cor lilás, com apenas uma cama e uma pequena cômoda combinando com as cortinas. Rafaela averiguou as gavetas e ao ver que estavam vazias, colocou todas as coisas de sua mala nelas. Em cima colocou seus produtos e alguns objetos dos quais nunca se separa. Depois de arrumar suas coisas, separou uma roupa e foi para o banho.
Tomou um banho relativamente demorado. Vestiu uma calça larga branca, uma camiseta verde sem nenhuma estampa, calçou um simples chinelo branco e saiu do banheiro. O banheiro era o cômodo mais simples da casa. Todo branco, com duas toalhas penduradas ao lado da porta, com uma cortina de plástico perto do chuveiro e com enorme espelho atrás da porta.
Entrou em no quarto e deitou-se para descansar. Acabou adormecendo. Acordou de tarde com sua irmã chamando-a. Acordou num pulo, mas logo relaxou.
― Dormi muito? - perguntou Rafaela.
― Mais ou menos, já são 15h30min. Levante-se para tomar café e conhecer minha filha. – disse Beatriz enquanto saia do quarto.
Rafaela se levantou e foi até o banheiro. Lavou seu rosto e foi para a cozinha.
― Mas que bela menininha! Parabéns, irmã! – sorriu.
― Oi titia! Como a Senhora está? A mamãe nunca havia falado sobre ter uma irmã. – disse ao sentar ao lado de sua tia.
― Parece que até fiz algo de errado. – disse ironicamente.
― Vamos comer! Estou faminta. – disse Beatriz disfarçando.
A partir de então tomaram café quase em silêncio. Apenas quem falava era Angélica que fazia várias perguntas para a sua tia. Ao terminarem, cada uma foi para um canto. Angélica para a sala, Beatriz continuou na cozinha e Rafaela foi ao banheiro escovar seus dentes e tornou ao quarto. Deitou-se novamente com seu livro, mas acabou adormecendo de novo. Era outro dia quando acordara e sentindo-se mais leve. Levantou e fez o que sempre fazia.
Pegou suas velas brancas e uma foto de uma mulher para rezar. Ao terminar, guardou a imagem, pegou as velas e as jogou no lixo. Quase no mesmo instante sua irmã entra no quarto assustada.
― Está tudo bem? Senti cheiro de queimado! – disse desesperada.
― Calma, irmã! Não vai acontecer como no passado. – disse sem nem se importar.
― Tome cuidado! Não quero presenciar tudo aquilo de novo. O café está preparado. Chamei por você ontem, mas acho que pelo cansaço não me ouvira.
― Viajei por horas, claro que estava! Já vou pra cozinha. – respondeu enquanto separava sua roupa
― Não demore.
Beatriz saiu do quarto e foi acordar sua filha que por sinal já estava despertada. Levantou-se, foi escovar seus dentes e pentear seu cabelo. Ao terminar de fazer suas coisas, saiu de seu quarto e foi em direção a cozinha. Ao passar pela porta de onde sua tia estava, sentiu um pequeno medo e saiu correndo. Rafaela percebendo a atitude de sua sobrinha deu de ombros e foi para a cozinha.
Após terminarem, Rafaela ajudou sua irmã à arrumar a cozinha enquanto a garota se preparava. Depois de terminarem, cada uma foi fazer sua tarefa. Beatriz se arrumar e Rafaela para a sala, esperar por sua filha. Quando as duas saíram, Rafaela aproveitou para olhar o quarto de sua irmã.
O quarto era simples. Todo branco, com uma cama, um pequeno guarda-roupa e uma pequena mesa onde ficam os cosméticos e outras coisas de Beatriz. Todos os móveis eram brancos com detalhes em verdes. Sem hesitar, começou vasculhar todas as gavetas por curiosidade.
No fundo tenho uma certa inveja de minha irmã por ter construído sua família enquanto eu apenas mergulhava em livros e estudos. Mas por outro lado deve ser muito chato ter muitas responsabilidades... – pensava enquanto olhava algumas fotos sobre a pequena mesa.
Colocou as fotos em seu devido lugar e foi para a próxima gaveta que, ao olhar, sentiu uma leve tristeza. Fotos de seus pais. Pegou uma e guardou debaixo de sua camiseta. Percebendo que não havia nada demais, saiu de lá.
Ao sair do quarto, entrou no de sua sobrinha. Um quarto simples como o de sua mãe. Todo branco, com detalhes em rosa. Uma cama pequena, um guarda-roupa e uma mesa onde estava seus materiais para desenhar, brincar e outras coisas. Em sua cama havia uma simples boneca, que a fez lembrar do presente que trouxera. Antes de ir se arrumar, pegou o presente e deixou em cima da cama de Angélica. Deu mais uma olhada e voltou para o seu quarto tirar o pijama e se arrumar para conhecer a cidade.
Alguns minutos depois, Beatriz chegou e foi tomar banho para que pudesse levar sua irmã para conhecer alguns lugares. Vestiu um longo vestido verde e uma simples sandália branca.
Enquanto esperava sua irmã, ficou assistindo ao jornal. Não demorou muito e Rafaela estava pronta. Vestindo uma calça social cinza, uma simples blusa preta e com seu blazer azul marinho. Com um sapato fechado sem salto.
― Assim eu fico com vergonha. Toda arrumada e eu assim, simples. – disse ao ver sua irmã.
― Eu só não gosto de mostrar meu corpo. Apenas isso. – respondeu sentando no sofá ao lado.
― Vamos? – perguntou Beatriz desligando a televisão e se levantando.
― Claro! – disse Rafaela enquanto se levantava.
Ambas saíram logo de casa e foram para o centro da cidade. Preferiram caminhar. No caminho foram conversando sobre várias coisas. Beatriz sempre sentia uma energia não muito boa quando estava ao lado de sua irmã. Sempre foi assim. Desde quando eram pequenas, Rafaela era a mais diferente.
Após caminharem por vários lugares, resolveram ir a um restaurante para comer. Fizeram o pedido de seus pratos e sentaram-se. Não demorou muito e seus pedidos haviam chegado.
Depois de almoçarem, foram até uma loja onde vendia coisas totalmente aleatórias. Enquanto olhavam por ali, Rafaela comprou coisas para si e para levar pra sua casa. Olhou mais algumas coisas e ficou esperando sua irmã que não demorou muito e saiu da loja.
Beatriz levou sua irmã em mais alguns lugares e voltaram para a casa. Logo estaria no horário de buscar Angélica. Rafaela foi junto.
Angélica sorriu ao ver sua mãe e foi correndo em direção a ela, pulou em seu colo e deu-lhe um forte abraço. Fez o mesmo com sua tia. No caminho contara sobre seu dia na escola e o que fizera.
Logo chegaram em casa e cada uma foi para um canto. Beatriz e Rafaela foram preparar o almoço. Angélica foi tomar banho.
Ao chegar em seu quarto e ver um pacote sobre sua cama, ficou super feliz. Abriu imediatamente e ficou completamente alegre ao ver a boneca. Pegou-a e foi até a cozinha agradecer sua mãe pelo presente.
― Obrigada mãe! Amei a boneca! – disse com um enorme sorriso estampado em seu rosto.
― Não foi sua mãe que deu, minha linda! Foi eu. Percebi que gostou. – respondeu Rafaela.
― Obrigada, tia! Gostei sim. Muito! – falou enquanto abraçada sua nova boneca. ― Vai se chamar Angel pra combinar comigo.
― Bonito o nome. – respondeu Rafaela.
― Que bonito nome, filha! Mas vai tomar banho primeiro para depois brincar. – interrompeu Beatriz.
Angélica deixou sua boneca em sua cama e foi para o banho. Passou a tarde toda brincando, apenas parou pra jantar e dormir. Colocou seu pijama e deitou abraçada com sua nova boneca. Sua mãe e tia despediram-se e foram dormir também.
Durante a madrugada Angélica teve a impressão de que estava sendo observada, com medo, pegou sua boneca, correu para o quarto de sua mãe e dormiu com ela.
Dia seguinte durante o café da manhã, disse para sua mãe o que fez dormir com ela. Rafaela só escutava enquanto tomava seu café. Beatriz achou que fosse coisa da imaginação de sua filha e , Beatriz arrumava a cozinha. Rafaela foi para o sea tranquilizou. Enquanto sua filha se arrumavau quarto ler um dos seus livros que trouxera junto. Mais tarde, após terminar o livro, resolveu dar uma volta pela cidade sozinha.
Caminhou o dia todo, apenas queria exercitar suas pernas. Andou quase a cidade toda e parou em vários lugares. Percebendo que estava perto de seu limite sentou em um banco numa praça e ficou ali por alguns minutos a observar todo o movimento.
Uma hora depois de descanso, resolveu voltar para a casa. Rafaela adora sentir o ar fresco, o ar da natureza, sempre que possível faz suas caminhadas.
Ao chegar em casa, sua irmã e sobrinha estavam na sala assistindo tevê. Cumprimentaram-se e Rafaela foi tomar seu banho. Passaram-se alguns minutos e logo saiu.
Vestiu uma calça de moletom na cor preta e uma camiseta branca. Penteou seus cabelos e deitou para ler um pouco. Enquanto apreciava a leitura, pôde ouvir sua sobrinha tossindo sem parar e Beatriz com tom de preocupação em sua voz. Hora depois foi interrompida por sua irmã lhe chamando para o jantar. Fechou seu livro e foi para a cozinha.
― O que a Angélica tem? Ouvi ela tossir. – perguntou Rafaela.
― Não sei. Ela começou tossir do nada e sem parar. Dei um remédio e ela foi deitar um pouco. – respondeu enquanto colocava comida em seu prato.
― Melhoras à ela! – disse Rafaela.
Conversaram sobre como foi o dia de cada uma e logo terminaram de jantar. Lavaram a louça, arrumaram a cozinha e foram para a sala.
Após pegar no sono, Angélica então começou sonhar com uma garota que aparentava ser de sua mesma idade. Cabelos louros claros, pele branca com manchas roxas por todo o seu corpo. Aos poucos ela ia se aproximando e dizendo:
Cuide bem dela, cuide bem. Por favor, cuide bem dela. - disse se aproximando de seu rosto - Cuide. Bem. Dela.
Angélica acordou no mesmo instante e foi até sua mãe desesperada contando o seu sonho para ela. Beatriz e sua irmã tentaram acalma-la. Enquanto Beatriz conversava com sua filha, Rafaela foi terminar de arrumar a cozinha.
Logo foram deitar. Angélica foi para a cama de sua mãe com a boneca. Durante a noite ela teve febre de 42ºC. Beatriz ao sentir o corpo de sua filha, imediatamente levantou-se, vestiu a primeira roupa que viu e chamou por sua filha para leva-la ao médico. Após vestir sua filha, foi até o quarto de sua irmã dizer o que havia acontecido e avisar que estava indo ao hospital. Rafaela se levantou de imediato e trocou de roupa para ir junto. Chamaram um táxi e foram para o hospital.
Ao entrar, Beatriz foi até a recepção e explicou o que estava acontecendo. Deu os documentos e voltou para o banco para esperar sua filha ser chamada. A febre parecia aumentar a cada minuto, Angélica estava delirando. Ao olhar o estado em que sua filha estava, voltou a recepção e pediu atendimento de urgência. A sala de espera estava cheia, porém só estavam sendo atendidos os casos não graves. Beatriz insistiu por várias vezes que acabou finalmente conseguindo.
Após alguns minutos Angélica foi chamada e no decorrer do caminho foi melhorando de forma misteriosa. Quando entraram na sala, a febre já não existia mais. O doutor estranhando, examinou a menina para que realmente tivesse certeza de sua hipótese.
― Quando começou a febre dela? Ela vomitou? Sentiu alguma dor em alguma parte do corpo? – questionou o médico enquanto examinava.
― Começou era por volta das 21h00, doutor. Não, não vomitou e também não sentiu nenhuma dor. Só a febre mesmo. – respondeu esperando alguma resposta do que poderia ser.
Aproximou-se da garota e fez várias perguntas.
― Eu estava com muito frio e meu corpo estava muito quente, parecia que alguém tinha colocado fogo em mim. – respondeu Angélica com a voz calma e num tom baixo.
O médico examinou novamente, mas nada do que descreviam estava ali.
― Ela não está com febre, Senhora. Tem certeza que ela estava com febre? Não foi algum susto? – perguntou o médico.
― Como não? Ela estava queimando em meus braços! – respondeu irritada com a desconfiança de um especialista.
― Vou passar este remédio e se ela ter febre de novo, venha imediatamente! – disse enquanto anotava a receita.
― Como vai dar um remédio sem ao menos saber o que se passa com ela? – perguntou indignada.
― Senhor, a sua filha não possui nenhum sintoma que vocês citaram. Eu a examinei completamente e na sua frente. Este remédio é para evitar que a febre volte. Caso contrário, volte no mesmo instante. – respondeu o doutor.
― Examine de novo, por favor! Minha irmã está lá fora, se quiser chama-la para perguntar, não hesite. – implorava Beatriz.
O doutor apenas levantou e examinou com mais cautela. Examinou pressão, pulso, temperatura do corpo e tudo o que era possível, mas nada encontrou.
― Ela está totalmente bem! Mas de qualquer forma, colocaremos ela em um quarto para ficar em observação por quatro horas. Se não tiver febre novamente, será liberada. Pode me acompanhar, por favor!? – disse ao levantar e pegar os relatórios da garota.
Explicou o caso para a enfermeira, deixou o relatório junto com ela e foi atender a outros pacientes.
Beatriz levemente aliviada, disse a enfermeira que ia falar com sua irmã e logo voltaria.
Ao ver que sua sobrinha não estava junto, perguntou sobre ela. Beatriz explicou todo o ocorrido e disse que podia ir pra casa e assim que desse o horário de ir embora ela ligaria para busca-la.
Durante as quatros horas Angélica não passou mal e sua febre não deu nenhum sinal. O médico então retornou, examinou-a novamente e vendo que ela estava totalmente bem, receitou remédio e deu as mesmas indicações de antes. Mesmo não confiando no doutor, pegou sua filha e foi embora. Ligou para sua irmã e ficou esperando. .
Angélica estava muito bem e foi deitar no seu quarto. Como era final de semana, Beatriz deixou sua filha dormir até tarde para que pudesse descansar. Aproveitou e fez o mesmo. Rafaela ficou acordada em seu quarto esperando o sono voltar. Percebendo que já estava amanhecendo, levantou e foi preparar o café da manhã. Deixou tudo pronto e foi caminhar.
Foi direto para a praça. Ficou lá pensando em várias coisas e em sua volta para a casa. Decidiu que ficaria por mais três dias e iria embora. Após sua decisão, foi comprar a passagem, almoçou em um restaurante qualquer e foi para casa.
Já estavam acordadas quando chegou. Rafaela disse que foi dar uma volta e almoçou na rua mesmo.
Nos últimos dias de sua estadia não ocorreu nada. A febre desde então sumira completamente.
― Os dias passaram rápidos. – disse Beatriz enquanto ajudava sua irmã com as malas.
― Passaram devagar para mim. Pareciam nunca acabar. – respondeu enquanto pegava suas malas.
Beatriz deu de ombros e ficou na porta com sua filha esperando o táxi que logo chegou. Despediram-se e Rafaela foi embora.
Angélica foi para a sala brincar com a boneca e Beatriz arrumar o quarto onde sua irmã ficou.
Ao entrar sentiu forte cheiro de velas. Logo veio lembranças de sua infância na mente. Respirou fundo e fingiu estar bem. Abriu as janelas, as cortinas e limpou todo o quarto jogando um perfume para que o cheiro saísse logo. O resto do dia foi como todos os outros.
Era madrugada quando Angélica acordou assustada e morrendo de frio. Foi para o quarto de sua mãe chamando-a.
― Mãe, estou com muito frio! – disse sonolenta para sua mãe.
― Está com aquela febre de novo? – perguntou examinando sua testa.
― Acho que sim. Está muito frio, mãe! Quero coberta! – dizia sem parar de tremer.
Beatriz logo se vestiu e fez o mesmo com sua filha. Ligou para o táxi e foi para o hospital. Colocou sua filha em uma cadeira e foi até a recepção pedir por atendimento. Depois de conversar com a recepcionista foi junto de sua filha e ao aproximar, viu que a febre havia ido embora. Mas ia ficar pra pedir por exames para tentar descobrir.
Por coincidência, o médico que chamou era o mesmo de antes. Entraram no consultório dele e logo Beatriz implorou.
― A febre dela já passou completamente, porém quero que fazem todos os exames possíveis nela. É um direito nosso! – disse desesperada.
― Acalme-se Senhora, vamos fazer todos os exames para ver se descobrimos a causa da febre. – respondeu enquanto examinava Angélica e perguntando várias coisas.
Após examina-la, anotou todos os pedidos de exames e a encaminhou para o outro andar.
Foram até a sala de espera e ficaram por alguns minutos apenas. Logo a chamaram. Passaram o resto da madrugada no hospital fazendo todos os exames.
Após o término, voltaram para o consultório do médico.
― Senhora, amanhã deve retornar para saber dos resultados. Mas aparentemente não há nada de errado com a paciente. – disse anotando em um papel informações dos exames. – Volte às 13h00 para buscar.
Beatriz assentiu com a cabeça, pegou todos os papéis e foi embora. Chegaram em casa por volta das 09h00. Beatriz ligou para a escola explicando o ocorrido e avisando que nessa semana ela não iria. Colocou sua filha na cama e foi preparar o almoço. Beatriz estava em um desespero silencioso. Não sabia o que estava causando essa febre e nem o porquê das melhoras repentinas.
Preparou o almoço e ficou descansando no sofá. Acabou cochilando e acordou 12h00. Foi até o quarto de sua filha e ela estava brincando na cama com sua boneca. Levou ela para o banho e deixou sua filha pronta. Em seguida tomou seu banho e se arrumou e foram para a mesa. Comeram, conversaram, riram e depois ficaram assistindo tevê até dar o horário de ir ao hospital.
Ao chegarem no hospital, Beatriz foi na recepção e explicou que era retorno. Após vinte minutos de espera, o doutor apareceu. Entraram no consultório e ele foi logo ao assunto.
― Todos os exames deram negativos. Não há nada de errado com ela. Fizemos tudo o que foi possível. – disse enquanto mostrava os exames.
― Mas como, doutor? Minha filha estava quase queimando de tão quente que estava naquelas noites. Como pode ter dado esses resultados? – disse Beatriz com lágrimas nos olhos.
― Eu estou bem, mamãe, estou bem. – respondeu Angélica enquanto segurava a mão de sua mãe.
― Vou receitar outro remédio durante sete dias, se a febre voltar, tornamos a fazer exames.
Beatriz assentiu, pegou a receita e foi embora. Estava decidida de que ia pegar toda a sua economia no banco e ia levar sua filha no médico mais caro da cidade.
Foi até o ponto de ônibus mais próximo e foram em direção ao banco. Para a sua sorte o banco estava vazio, logo pegou todo o dinheiro. De lá foram para o outro hospital.
Ao chegar no hospital foi até o recepcionista e perguntou se havia como marcar exames para emergência. Para sua sorte, havia um único horário, que será às 17h00. Beatriz então concordou e perguntou o valor de cada exame. Ficou surpresa com o valor, porém aliviada por ter o dinheiro que será necessário. Então pagou e foi para a casa descansar.
― Mãe, estou cansada, quero dormir. – disse Angélica com a voz fraca.
― Deite-se um pouco, mais tarde vamos ao hospital de novo. – disse Beatriz.
― De novo? Quero ficar na minha cama e dormir o dia todo. – dizia enquanto colocava seu pijama.
― Eu sei que você está exausta de tanto ir pra lá e pra cá, mas é pro seu bem. Logo estará em casa descansando sem se preocupar em ir para hospital.
― Tá bom... – respondeu Angélica e acabou dormindo.
Beatriz aproveitou que sua filha dormiu e foi limpar a casa. Estava muito preocupada com o que está havendo, não imaginava o que poderia estar causando a febre. Se encontrava ansiosa para os exames, pois tinha esperança de que ia sair algo e assim poder tratar a causa.
Limpou toda a casa e ao olhar no relógio achou melhor parar por ali mesmo e ir se arrumar. Tomou um longo banho, vestiu uma calça legging da cor preta e uma simples regata azul. Calçou seu tênis e prendeu o cabelo.
Foi até o quarto de sua filha e acordou lentamente. Angélica nos primeiros minutos não estava quis se levantar, sentia muito sono e seu corpo pesado. Após a insistência de sua mãe, se levantou. Beatriz deu um banho bem caprichado e vestiu sua filha com um vestido azul e um sapato branco.
Após alguns minutos, o táxi foi chamado e logo estavam a caminho. Ao chegarem, foram até a recepção. Logo foram chamadas.
No decorrer do caminho, Angélica começou a ficar mole e com febre. Beatriz logo percebeu e a pegou no colo.
Quando entraram no consultório, antes mesmo de Beatriz explicar o que acontecera com sua filha, foram logo examinar a febre, que por sinal estava 45º. Ao ver sua filha naquele estado, entrou em desespero. A doutora imediatamente pediu à enfermeira pra leva-la para o outro andar onde poderiam remedia-la e descobrir o motivo da febre.
Vendo o estado de sua paciente, pediu para que internasse imediatamente. Beatriz estava aos prantos e desesperada.
― Vou examina-la e logo volto com alguma resposta! – disse a doutora.
― Quero ficar com minha filha, por favor, me deixe ir junto! – implorou.
― Senhora, sei que está preocupada, mas prefiro que espere aqui.
― Cuide bem de minha filha, ela é minha única companhia. – respondeu ao segurar as mãos da médica.
― Cuidarei. – respondeu a doutora ao acionar o elevador.
Após a médica ir para o outro andar, Beatriz pegou seu terço e começou rezar sem parar, na esperança de ser atendida.
Meia-hora depois, a doutora veio com notícias.
― Como minha filha está? Descobriram a causa da febre? O que ela tem? Ela melhorou? – perguntava com esperanças.
― Ela ainda continua com febre, mas abaixou um pouco. Sinto muito, mas ainda não descobrimos a causa. Vamos deixar ela em observação até amanhã e nesse tempo faremos todos os exames possíveis. Ela tem comido algo diferente? Ou a Senhora mudou algum tempero, marca, etc? – perguntou a médica.
― Não, moça. Eu não deixo ela comer nada diferente se não estiver ao meu lado. E evito mudar tempero ou marca de comida. Como ainda não descobriram? Eu vim justamente por ser o hospital mais caro da cidade. Peguei toda a minha economia do banco para traze-la. – disse perdendo as esperanças.
― Nós vamos fazer o possível para que descobrimos logo. A visita está liberada, mas não a force falar muito. – respondeu se levantando e acionando o elevador.
― Obrigada doutora.
Foram para o andar onde Angélica se encontrara. Ao entrar no quarto, sua mãe respirou fundo para que não chorasse. Angélica estava dormindo profundamente. Beatriz ficou sentada ao lado de sua filha até que acordasse. Uma hora depois de preocupação, sua filha finalmente acordara. Foi uma alegria imensa ver sua filha abrindo os olhos. Pegou suas pequenas mãos, as apertou com delicadeza e encheu de beijos.
― Ainda estou no hospital? – perguntou confusa.
― Está sim, minha filha, mas é para o seu bem, logo estará melhor. – disse acalmando-a.
Enquanto conversavam, a doutora entrou no quarto para novamente examina-la. Enquanto o fazia, sem querer escutou a conversa.
― Mãe, traz a Angel, sinto falta dela. – disse a garotinha.
― Quem é Angel? Sua amiguinha? O nome é parecido com o seu, que legal. – perguntou a doutora.
― Uma boneca que ganhei dias atrás de uma tia. Ela é minha melhor amiga. – respondeu toda feliz.
― Ah, que legal! Se a Senhora quiser trazer, fique à vontade, desde que não seja muito grande, tá? E bem limpa.
― Eba! Traz ela hoje, mãe, por favor! – implorou Angélica.
― Tá, eu vou buscar! Tenho de ir em casa tomar um banho e trazer roupas limpas pra você, então já trago ela.
― Se a Senhora quiser ir agora, vá tranquila, ficará uma enfermeira com ela a todo momento. – informou a médica.
― Vou aproveitar que ainda é cedo e ir lá para buscar. Mais tarde a mãe volta, minha filha. – disse beijando sua testa e se levantando.
Despediu-se da médica e foi para sua casa. Ao chegar, jogou sua bolsa no sofá e foi arrumar as roupas para levar e a boneca de sua filha. Depois de tudo pronto, arrumou um pouco de sua casa e ao terminar, tomou um banho para voltar ao hospital.
Ao chegar, a médica lhe atendeu com um enorme sorriso, mas ainda assim sem resposta para a causa da febre.
― Temos duas notícias. Sua filha melhorou, está sem febre alguma, porém não conseguimos descobrir ainda o que causou. – disse a doutora.
― Pelo menos minha filha melhorou, mas espero que encontrem o que está causando a febre em minha criança. Trouxe a Angel, creio que fará muito bem a ela. – respondeu Beatriz.
Ao entrar no quarto de sua filha, ficou muito feliz ao ver ela sentada e agitada como sempre foi.
Quando viu sua boneca, ficou eufórica. Logo sua mãe a entregou e lhe encheu de beijos. Estava muito ansiosa para que sua filha ganhasse alta logo.
Uma hora depois vieram buscar Angélica para mais exames. Fizeram todos os pedidos pela doutora e a levaram novamente para o quarto. Mais tarde sua febre voltara. Beatriz foi imediatamente avisar a doutora. Examinou-a e então desconfiou o que poderia estar causando.
― Angélica, posso ver sua boneca? Quero conversar com ela. – perguntou.
― Claro! Mas cuide bem dela. – respondeu ao entregar.
― Senhora, venha comigo também, a enfermeira ficará aqui.
Beatriz estranhando, foi junto. Sem nem falar uma palavra começou vasculhar toda a boneca e então viu que estava certa.
― A tia dela trouxe essa boneca de onde? – perguntou a doutora.
― Só sei que veio da cidade onde ela mora e é uma boneca usada. – respondeu sem entender. ― O que houve?
― Acho que descobrimos a causa da febre de sua filha. Olha o interior como está podre. Ela aplicou algum cheiro para disfarçar. – disse mostrando o estado que estava.
Ficou totalmente assustada e desolada por ter acontecido isso.
― Minha nossa! Eu nunca imaginei que isso fosse possível! A boneca aparenta ser tão nova! Estou horrorizada! – respondeu assustada. ― O que vamos fazer com a boneca? – perguntou.
― Vamos jogar! Pode deixar que eu converso com ela. Isso não pode ficar nem aqui dentro para não causar nada a outros pacientes. – declarou.
― Ok. Jogarei agora mesmo! – disse se levantando e pegando a boneca.
Enquanto ia pra fora, se sentia decepcionada. Não importava se ela tivesse feito algo com si mesma, mas mexer com sua filha a destruía. Estava indignada.
Após joga-la fora, ligou no mesmo momento para sua irmã, mas não nenhuma ligação foi atendida. Então deixou uma mensagem para que ela nunca aparecesse na casa dela e nunca mais ligar.
Enquanto Beatriz foi jogar a boneca, Mariana, a doutora foi conversar com sua paciente Angélica.
― Cadê a Angel? – perguntou ao ver que a médica voltou sem ela.
― Angélica, ela ficou dodói e deixei ela em outro lugar para se recuperar, tá? Depois que você ir pra casa, ela volta. – disse sentindo-se mal por mentir.
― O que ela tem? Cuida dela igual você cuida de mim? – perguntou Angélica com tristeza em seu rosto.
― Ela tem algo dentro que não está lhe fazendo bem. Vamos cuidar dela como cuidamos de você, sim. – respondeu Mariana.
― Obrigada doutora! Cadê minha mãe? – perguntou.
― Está lá fora, mas logo ela vem. Agora descanse, tá? – respondeu se levantando.
Ao sair do quarto encontrou com Beatriz e explicou como foi a conversa. Ficaram aliviadas por Angélica ser paciente e ter entendido.
Era dia seguinte e Angélica teve alta. Beatriz não sabia como ia dizer que não levaria sua boneca consigo, mas foi surpreendida com o pedido de sua filha.
― Mãe, quero que deixem Angel aqui para cuidarem dela até que esteja bem como eu. Depois venho visitar. – disse enquanto era vestida.
― Tudo bem minha filha, você quem manda! – respondeu sorrindo.
Passou-se duas semanas e Angélica estava completamente curada. Já não lembrava mais da boneca. Beatriz sentia-se aliviada por isso.
Era 21h00 quando Angélica estava indo deitar-se. No dia seguinte levantaria bem cedo para ir a escola. Se não fosse a volta de sua febre.
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