Se Não Conhece, Não Brinque

Era noite de sábado na cidade de Botucatu. Andréia se arrumava para encontrar seus amigos. Estava ansiosa para mostrar o que havia comprado, pois sabia que não iriam acreditar nela, já que é cética. 
Andréia tem 18 anos, mora com sua mãe e seus irmãos. Possui cabelo vermelho, longo e enrolado. Está sempre questionando sobre tudo e adora estudar sobre todo tipo de assunto.
Vestiu a primeira roupa que estava por perto, pegou o item, avisou sua mãe que iria encontrar seus amigos e logo saiu.
A praça não era tão longe, então cinco minutos depois havia chegado e todos assustaram com a grande caixa que estava junto à ela. Percebendo o estranhamento, chegou sorrindo ansiosa para contar.  
― Boa noite, gente! Trouxe algo que vocês vão ficar surpresos. Ainda mais vindo de minha pessoa. - disse rindo.  
― Pela descrição que nos deu, deve ser algo relacionado ao sobrenatural. Sabemos que não acredita e não gosta. Se for algo relacionado a isso, nem me coloque no meio. - respondeu seu amigo.  
― Exato, Paulo! Vou mostrar a vocês que não passa de mentira e manipulação! Relaxa que o Diabo não vai te pegar. - respondeu rindo enquanto sentava no banco.  
    Paulo tem 19 anos. Mora apenas com seu pai e sua mãe. Possui cabelos pretos, longos e enrolados. É sensível, tem medo de muitas coisas e quieto. 
― Credo, menina! Deus é mais! - disse enquanto fazia o sinal da cruz.  
― Para de enrolação e mostra o que é logo! - disse sua amiga.  
― Calma, Ana! Acabei de chegar aqui. Mas tudo bem. Eu vós apresentais esta fraude! - retirou o tabuleiro de Ouija da caixa. 
― Ai, que horror! Onde conseguiu isso? - perguntou Paulo.  
― Menina, você é louca? - perguntou Gustavo. 
― Que maneiro! Vamos jogar logo! - gritou Ana.  
― Gente, calma! É só uma tábua com números, letras e símbolos. - respondeu enquanto colocava o tabuleiro no chão. 
Apesar de alguns estarem com medo, foram até Andréia. 
Ana Verônica, mas chamada de Ana ou Verônica tem 21 anos. Mora apenas com seu irmão. Tem cabelos marrons, longo e liso. Está sempre sorrindo, alegre e sempre fazendo brincadeiras maldosas. 
Gustavo tem 20 anos, mora com sua mãe, pai e irmãos. Possui cabelos louros médio, curto e ondulado. Tem medo de quase tudo, é estudioso e bastante religioso. 
― Se é pra fazer certo, vamos lá. Vou ler as regras. Sentem-se aqui e façam um círculo. - respondeu Andréia retirando o papel da caixa - Prestem atenção! - disse abrindo o papel e então iniciou a leitura:

    Se o ponteiro se mover para os quatro cantos do tabuleiro significa que o espírito contatado é mau,
    Caso se esteja jogando em uma mesa ou local aonde o tabuleiro fique elevado: se o ponteiro cair no chão, o espírito foi perdido;
    Se o ponteiro apontar o número oito repetidamente, um espírito mau está no controle do tabuleiro;
    O tabuleiro deve ser fechado corretamente após a sessão, ou o espírito pode se rebelar e assombrar os usuários;
    Nunca use o tabuleiro de Ouija quando estiver doente ou enfraquecido, tendo em vista que estas situações os mantêm vulnerável à possessão;
    Os espíritos contatados através do tabuleiro tentarão ganhar sua confiança através de mentiras. Por exemplo: um mau espírito pode alegar ser bom, assim ganhando sua confiança e lhe trazendo mal posteriormente;
    Procure manter contato sempre de forma respeitosa e só convide para proceder seções pessoas confiáveis, seguras e que o farão seriamente. Nunca irrite o espírito ou lhe faça perguntas com ironia;
    Antes de sair ou mesmo de entrar em uma seção, peça a permissão do espírito. Caso contrário, se está sujeito à possessão pelo mesmo;
    Nunca use o Ouija em cemitérios ou locais aonde houveram mortes brutais. Isto pode trazer maus espíritos para o tabuleiro. 
    Se seu ponteiro for de vidro, você deve limpá-lo antes e depois de cada seção, de forma que nenhum espírito possa entrar ali. Para isso, passe-o sobre uma vela acesa;
    Há apenas uma forma correta de se desfazer de uma tábua de Ouija. Primeiro quebre-a em sete pedaços. Depois, jogue sobre ela água benta e finalmente a queime;
    Se você puser junto do tabuleiro uma moeda de prata pura, espíritos maus serão incapazes de manter contato;
    Nunca deixe o ponteiro sozinho sobre a tábua se não estiver a utilizando. Se o espírito levá-lo para fora do tabuleiro, estará liberto;
― E por último. - disse. ― Evite perguntar sobre Deus ou o que se refere a sua religião. - olhou para seus amigos ao terminar – Entenderam? 
Ao olhar para seus amigos, viu que todos, exceto Ana estavam com medo. Deu risada e colocou o ponteiro sobre a tábua.  
― Coloquem seus dedos indicadores aqui e não tirem em hipótese alguma! - exclamou. 
    Assentiram com a cabeça e Andréia começou.  
― Se tiver alguém aqui, nos dê algum sinal. - disse olhando atentamente o tabuleiro. 
― Não vai pedir permissão primeiro? - perguntou Gustavo.
― Pedir permissão pro nada? - riu – Vamos nos concentrar. - disse Andréia voltando seus olhos para o tabuleiro.  
Todos estavam atentos ao ponteiro, mas ainda não se movera. Passados dois minutos o ponteiro ainda permanecia no mesmo lugar. Gustavo apenas rezava em pensamento para que nada acontecesse. Paulo já se encontrava tremendo. Andréia já imaginava que iria acontecer isso até que o ponteiro se move até a palavra SIM. Todos ficaram espantados, menos ela, logo pensou que fosse alguém querendo enganar, então deixou rolar. 
Ainda com desconfiança, perguntou: 
― Poderia nos dizer seu nome?  
No mesmo momento, o ponteiro moveu-se e ela começou soletrar. 
― B-I-C-H-O P-A-P-Ã-O - riu ao perceber que era um dos seus amigos - Quem foi? - perguntou enquanto olhava para eles. 
Então Ana começou rir e se entregou.  
― Foi eu! Não resisti, me desculpem! - disse ainda rindo.
Logo ficaram aliviados, porém se irritaram por ela estar brincando com o desconhecido. Prepararam-se e voltaram pro tabuleiro. Andréia repetiu todo o procedimento. Nos primeiros minutos nada aconteceu. Ana ansiosa, perguntou: 
― Qual o seu nome?  
O ponteiro lentamente formou o nome Sandra. Andréia sentiu-se incomodada ao ler este nome e seus amigos logo se espantaram. 
― É apenas coincidência. - respondeu Andréia. ― Vamos focar no jogo e não esqueçam de que o espírito pode mentir. Se isso ser real, lógico. - respirou fundo e fez mais uma pergunta.
― O que houve com você? - perguntou com receio da resposta.
E então o tabuleiro moveu lentamente formando a palavra ACIDENTE. Andréia ficando desconfortável, perguntou qual foi o acidente e para sua surpresa foi da mesma forma que o de sua irmã. Mesmo com as coincidências, ainda achava que poderia ser alguém que estivesse fazendo uma brincadeira de mal gosto com ela. 
Lembrando então de algo que somente sua irmã sabia o que havia feito alguns meses atrás, perguntou ao tabuleiro. Respirou fundo e fechou seus olhos antes da próxima pergunta.
― Meses atrás eu fiz algo que ninguém sabe até hoje. Se você for minha irmã mesmo, poderia dizer o que é? Não me importo se você revelar. Diga e eu direi se é ou não verdade. - perguntou confiante, mas com medo ao mesmo tempo. 
Seus amigos ficaram surpresos com sua revelação, principalmente Gustavo. Porém dessa vez o ponteiro não se mexeu imediatamente como nas outras vezes. Cinco minutos depois a resposta apareceu, mas errada. Andréia tornou-se a ficar confiante por saber que se o tal do espírito não soube responder, é porque alguém estava fazendo todo o jogo. E ela estava certa.  
Enquanto pensava em alguma pergunta que revelasse quem estaria fazendo isso, deixou seus amigos perguntarem e somente Ana quis perguntar.  
― O lugar que você está agora, tem luz? - perguntou triste.  
Então o tabuleiro tornou à responder rapidamente e formou a palavra LUZ. Sentindo-se aliviada, sorriu e lançou mais uma pergunta, a da qual estava com um pouco de medo.  
― Você está sozinha ou acompanhada? - perguntou Ana.  
O ponteiro respondeu depois de dois minutos a palavra SOZINHA. Após essa resposta, Ana não quis perguntar mais nada, então Andréia teve uma ideia.  
― Poderia nos dar um sinal? Tocar em algum de nós ou mexer em algo? - perguntou ansiosa.  
Esperaram por vários minutos, mas nada aconteceu. Então ela pediu algo menor. Apenas que mexesse em seu cabelo, porém não foi realizado seu pedido. Ainda achando que poderia ser um de seus amigos, pediu algo maior. Sem medo pediu para que "sua irmã" possuísse alguém. Todos ficaram com medo, mas Gustavo se apavorou. Encarando seu amigo, fez uma pergunta que só ele e sua irmã sabia do que ocorreu. 
― A última pergunta - disse suspirando - o que eu fiz após a festa de réveillon? - perguntou confiante.  
E então o tabuleiro moveu-se mais rápido que o normal, mas ela conseguiu entender a resposta. E a partir daí não teve dúvidas de que era o seu próprio amigo que fingiu o tempo todo. Irritada, fez um pedido antes de finalizar.  
― Mana, eu quero que você siga o Gustavo! - disse sorrindo enquanto o encarava. 
Todos ficaram com medo e sem entender o porquê de ela ter pedido isso, mas ao terminar o jogo, Andréia disse o que já sabia.  
― Não, eu não sou uma pessoa má! Vocês sabem muito bem disso, não é mesmo? Mas o que acharam dessas respostas? Acham mesmo que foi a minha irmã? Não! A partir da segunda pergunta que fiz, a minha desconfiança surgiu e eu não tive dúvida alguma de que foi o Gustavo! - disse apontando pra ele. ― E sabem o porquê? Porque era ele que estava comigo e minha irmã depois do réveillon. Como eu sei? Quando pedi para que "ela" revelasse o que fiz meses atrás. Todas as outras perguntas tiveram respostas por ser fácil de responder, qualquer um poderia responder, menos a de meses atrás. O que me deixa irritada é que ele fingiu ser minha irmã! Minha irmã! - gritou - Qual o seu argumento. babaca?
― Apenas pra você parar de mexer com o perigo! Não o fiz por mal, não quis te chatear, fiz para o seu bem! - respondeu ofegante. 
― Mas tinha que ser minha irmã? Por que ela? Você sabe muito bem que não permito usar a imagem dela para esses tipos de coisas. Seu imbecil! Mas se esse tabuleiro for real, você será seguido por ela. Ou quem estava ali no tabuleiro. Vou adorar poder ver medo em seu rosto! - disse sorrindo.
Minutos depois da discussão, as luzes dos postes próximos começaram piscar rapidamente e sem parar, o vento do nada surgiu forte e mais gelado que o normal. Porém as velas continuaram intactas. Todos ficaram apavorados quando o ponteiro moveu em forma de oito. Assustados, começaram pegar suas coisas, mas quando Andréia foi pegar seu tabuleiro, foi arremessada para longe. Seus amigos entraram em desespero e começaram gritar por socorro, mas não aparecia ninguém. Os carros que passavam por perto, não davam atenção pois achavam que eles estavam chamando a atenção ou até mesmo drogados.  
Assim que Andréia se recuperou da queda, conseguiu pegar suas coisas. Quando ela e seus amigos estavam prestes a saírem do local, Gustavo caiu no chão convulsionando. Sem pensar muito, Ana pegou seu celular e ligou para a ambulância para que viesse o mais rápido possível. Ao terminar a ligação todos foram para um ponto para que o motorista pudesse vê-lo melhor. Após cinco minutos, a ambulância chega e quando eles foram até Gustavo, viram que ele havia sumido dali. Os enfermeiros achando que fosse brincadeira, deram broncas e saíram sem nem ter ouvido um deles. Preocupados com o sumiço começaram procurar desesperadamente por seu amigo.   
Enquanto Paulo ajudava encontrar seu amigo, viu um tênis dele e foi em direção para tentar encontra-lo, seguindo para um outra rua, pôde ver uma sombra cuja com a mesma altura de Gustavo. Sentiu-se aliviado e foi até ele perguntando o porquê da brincadeira, mas quando se aproximou ficou horrorizado com a visão. 
Os olhos de seu amigo estavam brancos e uma marca desconhecida em sua testa. Imediatamente começou gritar para seus amigos irem até onde estava, mas assim que gritou, começou sentir seu estômago sendo pressionado, e sua respiração estava quase sumindo. 
Ao se aproximarem, Gustavo e Paulo começaram gritar. Um grito alto e macabro. Quando tentaram toca-los, uma sombra maior surgiu e correram de volta para a praça, quando estavam quase se aproximando foram impedidas por algo mais forte.  
E enquanto tentavam escapar, somente Ana conseguiu e Andréia foi segurada por "Gustavo". Sua amiga imediatamente saiu correndo para buscar ajuda. Correu até a igreja mais próxima e  ao mesmo tempo  tentava buscar significado do símbolo que estava desenhado na testa de seu amigo. 
Ao encontrar a igreja, entrou desesperada e foi até o padre pedindo por ajuda e explicou tudo o que houve. O padre ao se dar conta do que estavam lidando, sentiu falta de ar e disse que atraíram uma das piores coisas que poderia existir no outro mundo. Ana ficou apavorada ao ouvir tais palavras. O padre muito assustado pegou todas suas coisas necessárias para enfrentar a coisa que estava em Gustavo.       
Saíram às pressas em direção a praça. Após alguns minutos chegaram, se aproximaram e assim que o padre estava mais perto, Gustavo levantou sua cabeça, olhou fixamente para ele e gargalhou.  
― Por que maldição vocês sempre chamam um padre? Não sabe enfrentar os problemas sozinhos? - perguntou "Gustavo". 
O padre só encarava e prestava atenção em cada palavra que era dita por aquele ser. Fazendo sinal para que Ana saísse de perto, pegou sua estola e colocou-a em seu pescoço. Pegou sua bíblia, seu vidro com sua água benta e se preparou sem imaginar o que estava por vir. 
Então respirou fundo e declarou as seguintes palavras: 
― Eu sei que é você! Sei que voltou pra tentar resolver as coisas, mas hoje não é o dia. Vai ter de esperar! - disse o padre enquanto colocava seus óculos. 
― Está com medo de me enfrentar? - respondeu "Gustavo" sorrindo.  
― Nunca tive medo. Nunca terei. - disse o padre. 
Notando que o outro amigo do grupo seria mais fácil de traze-lo de volta, apenas jogou água benta, rezou e logo Paulo estava a salvo. Então Andréia se soltando dos braços de Paulo, o abraçou forte e saíram em direção a Ana. Abraçaram-se e com medo ficaram em um canto olhando tudo o que estava acontecendo.
"Gustavo" apenas ria de toda a situação. O que não esperava é que o padre imediatamente jogou a água nele. No mesmo instante se contorceu e proferiu várias coisas a ele. Mas o padre não se importava com nada do que ele fazia ou dizia.
Percebendo que ele havia se acalmado, começou rezar em tom baixo. O moço então começou a rir, mas parou no instante em que a água benta foi jogada em si. 
Olhando fixamente em seus olhos, começou citar um versículo da bíblia. "Gustavo" respirava fundo e forte, fechou seus punhos preparando-se para ataca-lo. Dando passos para trás, conseguiu afastar-se um pouco, mas não por muito tempo. Foi agarrado em seu pescoço e erguido. Quando foi levantado, Andréia começou debater-se e gritar.  
Mas percebeu que tudo o que havia acontecido, foi um grande pesadelo. Acordou assustada em sua cama e sendo observada por seus amigos. Estavam muito preocupados.  
Levantou-se da cama e explicou o que havia sonhado, ficaram apavorados. Ana aproximou-se e abraçou forte. Agradecendo o carinho de seus amigos pediu para que deixassem ela sozinha para descansar. Quando foram embora, Andréia guardou seu tabuleiro e sorriu porque ainda assim sabia que nada disso existe.

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