Amor Passageiro
No relógio marcava 06h00 quando Flávia levantou sonolenta e foi tomar seu banho. Se arrumou, pegou sua bolsa e foi para a cozinha tomar café, que não demorou muito.
Trancou a porta de seu apartamento e foi para o ponto de ônibus. Entrou no ônibus, pagou sua passagem, se sentou no lugar de sempre, pegou seu fone de ouvido e colocou no modo aleatório. Olhou para o lado observando o movimento e se deparou com uma menina que primeira vez estava ali. Sem perceber, Flávia sorriu ao nota-la, mas logo voltou a sua atenção para a janela.
Não demorou muito e logo o ônibus parou em seu destino. Guardou o fone, pegou suas coisas, se levantou e foi indo em direção à porta. Ao passar do lado da moça sorriu timidamente e a nova passageira sorriu de volta. Feliz que teve uma resposta, saiu e foi para o seu destino.
Chegou no trabalho animada e cumprimentou todos ali. Estranharam porque ela sempre chegava quieta. Flávia entrou no escritório e pensando na moça começou seu trabalho.
Flávia é de estatura baixa, de médio, a pele bronzeada do sol. Possui cabelos longos, ondulado com franja, na cor louro escuro. Seus olhos são marrons e grandes. É alegre, divertida, curiosa e brincalhona. Se esforça em tudo o que estiver envolvida. Trabalha em uma empresa de contabilidade. Seu hobbie é pesquisar sobre diversos assuntos.
Na hora do almoço decidiu não ir junto com o pessoal, então ficou em seu escritório. Enquanto comia, repetia a cena do ônibus em sua mente por várias vezes, sua mente estava longe. Comeu e depois ficou respondendo seus e-mails. No resto do dia foi normal, exceto por seu novo pensamento.
Ao olhar o horário começou arrumar suas coisas às pressas pois não queria perder o ônibus. Deixou tudo arrumado, pegou suas coisas, os relatórios para entregar e saiu. Foi até o escritório de seu chefe e entregou o que precisava. Ele também estranhou suas atitudes.
― Você está bem, Fla? - perguntou o chefe.
― Nunca estive tão bem! - deu uma risada. ― Estes são os papeis de hoje! Agora preciso ir. Tenha um bom dia! - respondeu.
Despediu-se de todos e foi correndo. Ao chegar, deu a sorte do ônibus estar chegando, mas o azar de não a encontrar. Respondeu pra si mesma que nesse horário ela fazia um caminho diferente. Suspirou fundo e sentou em qualquer poltrona.
Ao chegar em casa foi tomar um banho e depois preparou sua janta. Comeu, lavou a louça e foi um pouco assistir tevê. Ligou num canal qualquer e pegou seu celular para ver se tinha alguma mensagem importante. Respondeu a todos e mandou mensagem para seu amigo sobre o ocorrido.
Ela é tão linda. Tão meiga. Eu espero vê-la novamente amanhã, será que vou ter sorte?
Seu amigo logo respondeu.
Torcendo para que sim!
Rindo da mensagem, respondeu.
Torce muito mesmo! Se amanhã ela estiver lá, eu vou pedir o número dela. Ou tentar.
Não consigo parar de pensar no sorriso mais lindo que já vi. - suspirava enquanto respondia.
Minutos depois seu amigo, Júnior, respondeu.
Peça sim, mas vai com calma! Não sabemos se ela é comprometida ou não. E se também gosta de meninas.
Percebendo que não pensou nesses detalhes, sentiu-se desanimada.
Não tinha pensado nisso, obrigada. Eu vou dormir, estou muito cansada! Boa noite e durma bem.
Se despediram e Flávia deitou. Ficou pensando na menina, mas ao mesmo tempo no que seu amigo dissera. Estava com receio de se aproximar. Sem perceber, acabou dormindo, mas achando que estava atrasada acordou antes do despertador.
Se levantou e fez sua rotina matinal e foi tomar café e enquanto isso, conversou com seu amigo e mais algumas pessoas, além de ler algumas notícias. Pensando que podia encontra-la esperando pelo ônibus, resolveu ir mais cedo. Guardou as coisas, lavou sua xícara e despediu-se de seu amigo.
Com seus passos acelerados, estava bastante ansiosa. Antes de chegar, pôde perceber que não havia ninguém e concluiu que poderia ser o horário e que logo chegariam. Os minutos foram passando, pessoas chegando, mas nada de quem realmente lhe importa. O ônibus chegou e nada dela. Suspirou e entrou sem esperança de reencontra-la, mas o que não estava esperando é que já estava lá. Sua expressão mudou imediatamente.
Flávia foi para seu lugar que mais gostava e colocou seu fone. No caminho pensou se pediria o número ou não, estava com medo de seu amigo estar certo.
Sem nem perceber, os minutos passaram e já estava em seu destino. Levantou, suspirou e foi andando lentamente e quando chegou ao lado de onde a moça estava, parou, respirou fundo, então deu seu número.
― Oi, tudo bem? Este é o cartão de onde trabalho, qualquer coisa pode me ligar. Tenha um bom dia! - entregou com um enorme sorriso e saiu sem esperar por uma resposta.
Sentindo-se animada por ter conseguido, entrou sorridente, cumprimentou a todos, conversou com a secretária e foi para seu escritório. A manhã foi sossegada, mas cheia de trabalho.
Na hora do almoço resolveu ir com seus amigos como sempre fazem. Ao chegar no restaurante, todos comentaram seu novo comportamento. Flávia acabou contando o que havia acontecido e todos desejaram boa sorte. Seu almoço foi sossegado e divertido. Antes de voltar, olhou seu celular, mas nada de mensagem da moça.
Trabalhou normalmente e sem perceber já era hora de ir para a casa, mas pra sua tristeza começou chover e então teve de ir com seu chefe. Agradeceu a carona e entrou correndo.
Ao entrar fez o que tinha de fazer, jantou e ficou conversando com seu amigo sobre ela não ter ligado ou mandado mensagem. Depois de muita conversa, despediu-se de seu amigo e foi dormir.
No dia seguinte, após o café, foi para o ponto de ônibus, mas não esperava ter ou não resposta, estava mais tranquila.
Entrou no ônibus e seu coração disparou ao ver que ela estava sentada ao lado de onde costuma ficar. Com passos lentos foi se aproximando.
― Bom dia! - disse a moça com um enorme sorriso.
― Bom dia! Se importaria de seu me sentar aqui? - perguntou sem jeito.
― Claro que pode! - sorriu. ― Ah! Me desculpa a falta de educação. Prazer, Isabela. Flávia, né? - perguntou olhando nos olhos.
Isabela é de estatura alta e tem o corpo magro e de pele negra. Seus cabelos são longos, cacheados e na cor vermelho. Seus olhos são castanhos claros. Tímida, distraída, sorridente e carinhosa. Está sempre preocupada com as pessoa ao seu redor, ajuda a todos. Seu maior hobbie é cuidar dos animais de rua.
― Isso, Flávia. Prazer. - respondeu sem graça e feliz por dentro.
― Eu não te mandei mensagem ou te liguei porque eu não tenho celular, me desculpe.
― Tudo bem, sem problemas! Está indo onde? - perguntou Flávia sem saber o que dizer.
― Trabalhar. - respondeu com o que veio na mente. ― E você?
― Eu também! Logo chega meu destino. Trabalha por aqui? - perguntou.
― Não, é um pouco distante daqui. - respondeu olhando para os lados.
― Estou fazendo perguntas invasivas? Me desculpe, não foi minha intenção. - respondeu Flávia com vergonha do que fizera.
― Não, relaxe. É que sou tímida mesmo. - sorriu de lado.
― Me desculpe mesmo. - pausou. ― Chegou meu destino. Tenha um bom dia, Isa! - despediu-se e foi para seu trabalho.
Flávia se levantou e foi para o seu trabalho.
Durante a semana elas se conheciam cada vez mais. E Flávia pôde confirmar que estava sentindo algo por Isabela.
― Quer sair comigo? Tomar sorvete, ir ao cinema, ao shopping... - perguntou Flávia a interrompendo.
― Estava esperando por isso! - sorriu.
Flávia surpresa com a resposta, a abraçou, mas quando ia beijar, Isabela a impediu dizendo que por enquanto não. Flávia se sentiu decepcionada, pediu desculpas e ficou quieta. Logo chegou seu destino.
Se despediram e Flávia saiu correndo. Ao sair do ônibus foi em direção ao seu escritório sem cumprimentar ninguém. Suspirou fundo, encarou seu computador e começou seu trabalho. Seu dia foi longo e nada animado. Desviava das perguntas sobre si e dizia que apenas acordou de mal humor.
No dia seguinte, Flávia ainda chateada sentou-se ao lado de Isabela, mas não tentou beija-la.
― Desculpa por ontem. - disse Isabela. - Não quis te chatear. Podemos marcar de sair, que tal? Assim nos conhecemos melhor.
― Por que não quer me beijar? - Flávia respondeu.
― Se você aceitar esse encontro te recompenso com muitos beijos. - disse sorrindo para Flávia. - Mas por favor, me dê essa última chance.
― Vou aceitar só porquê eu gostei muito de ti! Quando?
Isabela abriu um enorme sorriso e combinou para ser no mesmo dia, às 19h! Flávia concordou, se despediu e foi para o trabalho.
No resto do dia ela só pensava no quanto estava se apaixonando. O restante de seu dia foi bom, porém a ansiedade tomara conta de si.
Enquanto esperava o ônibus, Flávia ficou conversando com seu amigo
Eu mal posso esperar para chegar 19h00! Eu quero vê-la de novo! Quero poder ficar abraçada com ela a noite toda!
Após alguns minutos seu amigo respondeu.
Eu torço muito para que tudo ocorra bem! Quando é que vou conhecer?
Com sua enorme animação respondeu.
Muito obrigada meu amor! Logo te apresento! Preparo um almoço pra você e meus amigos do escritório pra conhecerem. Ela é tímida, cuidado com as piadas – riu Flávia. Mas já contei pra ela sobre você. Ela quer te conhecer.
Alguns minutos depois Júnior respondeu.
Ansioso! Eu fico muito feliz em te ver feliz. Que bom que conheceu uma pessoa que o sentimento é recíproco, eu torço pra vocês irem longe!
Agora tenho que ir. Me conta tudo depois! Tenha um ótimo dia e um ótimo encontro. Beijos, te amo meu anjo!
Despediram-se e Flávia logo chegou em sua casa. Ao chegar, colocou música no som da sala e foi se preparar. Colocou a água na temperatura gelada e ficou por alguns minutos. Tomou seu banho e foi se arrumar. Colocou seu vestido na cor vinho, seu sapato salto agulha cor preto e fez uma maquiagem básica. Depois de pronta avisou seu amigo que estava indo e chamou o táxi.
Ao chegar no local em que combinaram preferiu uma das mesas do lado de fora para que Isabela pudesse encontra-la facilmente. Pediu um copo de suco e ficou esperando.
No relógio marcava 19h30 e Flávia começou estranhar, mas pensou nas possibilidades que poderiam ter acontecido. Então calmamente esperou por sua garota.
Mandou mensagem para Júnior sobre a demora e ele a acalmava. Ela estava ficando preocupada. Decidiu esperar por mais algum tempo, mas nada de Isabela aparecer.
Percebendo que ela não iria, pagou o que consumiu e pediu uma caneta ao garçom.
Espero que não tenha acontecido nada grave.
Desculpe se você chegou e eu não estava mais aqui. Na segunda nos vemos. Tenha uma ótima noite!
Flávia explicou ao garçom e lhe entregou o papel pedindo para que entregasse. Chateada por não ter visto Isabela, pediu um táxi e foi para sua casa.
Tirou seu vestido, sua maquiagem e tomou um breve banho antes de deitar. Mandou mensagem para seu amigo e foi dormir.
No dia s eguinte leu a mensagem de Júnior e foi preparar seu café e lembrando do bilhete, pediu para que seu amigo a levasse até o restaurante mais tarde porque queria saber se ela apareceu. Depois do café lavou as louças e foi assistir um pouco de tevê.
Mais tarde tomou banho para ir ao restaurante. Decidiu que ia almoçar por lá mesmo. Se arrumou e ficou na sala até seu amigo chegar. Conversaram um pouco, assistiram um pouco de tevê juntos e depois foram almoçar.
Ao chegarem, Flávia foi direto procurar o garçom.
― Boa tarde, moço! Não sei se você se lembra de mim. Ontem eu...
― Lembro sim! - interrompeu. ― O bilhete está aqui comigo, ela não veio. Perguntei às todas moças que sentaram lá fora e nenhuma era quem você esperou. Me desculpe. - sorriu sem graça.
― Muito obrigada! Você está com o papel aí? - perguntou com expressão de tristeza.
― Estou sim! - respondeu enquanto tirava o papel do bolso e entregando.
― Obrigada! - pegou o bilhete e foi até onde seu amigo estava.
Mostrou o bilhete a ele e fez seu pedido. Estava triste por ela não ter aparecido nem depois. Comeram, beberam, conversaram e ficaram ali por um tempo.
Chegando na casa de Flávia foram para a sala e ficaram assistindo filmes o dia todo. Isabela não saía de sua mente, sentia saudade, mas ao tempo tristeza. Júnior a consolava.
Mais tarde seu amigo foi embora. O agradeceu por ter passado o dia com ela. Ao ir embora,
Flávia tomou um banho e ficou deitada. Não queria jantar e sentia-se muito ansiosa, pois no dia seguinte veria ela e não sabia o que aconteceria. Depois de muito pensar acabou dormindo.
Acordou antes de seu despertador e levantou para se arrumar. Depois de pronta tomou seu café, suspirou fundo e saiu para o ponto. Cada vez que o ônibus se aproximava, seu coração acelerava mais, o nervoso era imenso, mas soube controlar.
E então chegou a hora de entrar. Preferiu esperar todos entrarem para tomar coragem. Sua vez chegou e lentamente entrou. Logo a viu, mas estranhou não estar onde costumavam ficar. Ela estava em outra poltrona, ao lado de outro passageiro. Os olhares se encontraram e Isabela abaixou sua cabeça com expressão de tristeza. Flávia sentou no fundo sem entender o que estava acontecendo, queria saber o porquê de ela não ter ido, queria saber se estava tudo bem, mas logo lembrou que a próxima vez que se encontrariam seria apenas no mesmo horário do dia seguinte. Suspirou e colocou música em seu celular.
Após alguns minutos o ônibus chegou onde teria que descer. Para o seu azar, o passageiro ao lado de sua amada ainda estava lá, então desistiu e deixou para tentar no outro dia. Passou por ela sem ao menos dar um tchau e foi trabalhar.
Ao entrar na empresa seu chefe estava esperando-a para saber como foi, mas ao notar sua expressão, imaginou que não foi bom.
― Bom dia! Fiquei plantada até quase 22h00 e ela não apareceu, nem sequer depois. Ela diz não ter telefone, então não sei o que aconteceu, no ônibus ela sentou em outro lugar. Amanhã talvez quem sabe eu saiba o que ocorreu. Vou pro escritório. - saiu sem esperar seu chefe dizer algo.
Preferindo não dizer nada, voltou ao trabalho. No almoço escolheu ficar em seu escritório, não estava animada. Passou o resto do dia concentrada no trabalho.
Ao chegar em casa contou para seu amigo e ele a aconselhou. Cansada, se deitou e esperou pelo sono.
Para sua tristeza, sonhou com sua amada. As duas estavam na porta do ônibus de mãos dadas, mas Isabela soltou sua mão e disse que não podia sair daquele lugar. Flávia acordou na hora assustada e sem entender nada. Tentando entender acabou dormindo e acordou com o barulho de seu despertador. Levantou sonolenta, foi para o banho, ficando ali por alguns minutos pensando em pegar outra rota, mas sabia que somente aquela era a única que ia para o seu trabalho, então tomou coragem. Tomou café e saiu. Quando o ônibus se aproximou, tomou toda a coragem e decidiu que ia conversar com ela.
Ao entrar ela olhou diretamente onde Isabela costuma sentar, que inclusive ela estava. Andou às pressas e conseguiu sentar ao lado.
― O que houve no domingo? Está tudo bem? - perguntou Flávia escondendo sua decepção.
― Problemas que não posso contar. Ainda. Mas logo saberá. - respondeu Isabela pausadamente.
― É grave? Precisa de ajuda? Está doente? - questionava com preocupação.
― Você vai saber. Só não quero dizer sobre. Desculpas. - disse Isabela olhando para o lado de fora.
― Tudo bem. Eu que peço desculpas. - disse Flávia se levanto para descer.
― Sonhei com você. Foi um sonho estranho, sem sentido algum. - respondeu. ― Até amanhã. - se despediu e foi embora.
Saiu e foi para o trabalho. Seu dia foi bem produtivo e cheio. Flávia e Isabela se reconciliaram no dia seguinte.
Flávia acordou muito animada. Levantou, tomou banho, bebeu uma breve xícara e foi para o ponto ansiosa para ver sua namorada.
Ao entrar no ônibus se assustou e ficou confusa com o cartaz.
Hoje, dia 09 de Agosto, de 2004, completa 7 anos do falecimento de Isabela Silva. Nós, da empresa, estaremos sempre a disposição da família.
Flávia estava completamente sem entender nada e achou que fosse alguma brincadeira – de muito mal gosto – de sua namorada. Então olhou diretamente para onde ela costuma sentar e ela não estava pela primeira vez. Então perguntou para uma moça que a encarava.
― O que está acontecendo? Quem é a moça do cartaz? - perguntou desesperadamente.
― Ela morreu 7 anos atrás. Como está escrito. Sofreu acidente. Dizem que no mês do acidente ela aparece no banco onde estava e fica por alguns dias, muitas pessoas dizem sentir a presença dela, mas nunca a viram. Nem eu e espero não ser a primeira. - respondeu a moça.
― Como assim? Eu a vi até ontem. Estáva... - pausou quando notou a expressão da mulher.
Flávia foi para onde costumava sentar e então começou chorar desesperadamente. Não estava acreditando que tinha se apaixonado por uma menina que nem no seu mundo estava mais. Ela não acreditava que o amor de sua vida não existia.
Mandou sms para seu chefe de que não iria. Guardou seu celular na bolsa, pegou suas coisas e sentou onde via Isabela e deitou. Só queria ficar ali, só queria sentir a presença dela. Acabou dormindo ali e sentiu um toque gelado em seu rosto. Sabendo que era ela, sorriu e agradeceu.
Flávia foi para sua casa e mudou sua rota para o trabalho. Nunca mais a viu, nem mesmo no mês de seu falecimento.
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