Não volte!
Era uma tarde de sábado no interior de São Paulo e um casal com seus três filhos estavam se mudando para a nova casa. Estava um lindo dia ensolarado e sem nuvem alguma no céu.
Enquanto o casal colocava seus móveis na casa, o casal de gêmeos de 11 anos estavam brincando no quintal e a mais velha, de 17 anos, escutando música em seu celular, mas se distraiu com algo estranho que avistara, uma mulher de vestido longo e azul de época andando em direção ao quintal. Achou que fosse uma ajudante de seus pais, apesar da veste antiga, ela ignorou e voltou para a música.
Um dos gêmeos, Roberto, parou o que estava fazendo e olhou para a mesma mulher que sua irmã tinha visto e cumprimentou.
― Oi moça! Meus pais estão lá dentro, pode entrar. - respondeu apontando para a porta.
A moça apenas sorriu e foi em direção a ele, quando seu irmão, Flávio, ficou sem entender e sentiu um leve arrepio quando viu seu irmão apontar para o nada.
― Com quem você está falando, Roberto? - indagou assustado.
― Com aquela moça ali perto da porta! - quando ele voltou o olhar para porta, a moça já não estava lá. ― Acho que ela deve ter entrado.
― Eu não gosto dessas suas brincadeiras, pare com isso agora.
― Você sabe que eu nunca estou brincando, Tiago... - quando é interrompido com os gritos de sua mãe na cozinha.
Tiago saiu correndo pra ver o que havia acontecido. Roberto apenas sentou na balança e continuou a brincar.
― Mamãe o que aconteceu? Por que sua mão tá sangrando?
― Eu só cortei a mão com a faca enquanto fazia um lanche.
Seu pai que estava na horta chega correndo para ver o que estava acontecendo, após Laura, sua mulher, explicar.
― Isso tá muito feio vamos agora até o hospital!
― Mas, e as crianças, Maurício?
― Vamos agora!
Alice logo em seguida vai até a cozinha, pois apesar de seu fone estar muito alto pôde escutar os berros do pai insistindo para sua mãe entrar no carro para ir ao médico .
― O que está acontecendo?
― Vamos levar sua mãe no médico.
― Eu não quero ir!
― Vamos, anda logo!
― Estou terminando de desembalar minhas coisas agora.
― Tudo bem, Alice, coloca o Roberto pra dentro, vou levar sua mãe para o médico e já estou de volta. Qualquer coisa me liga!
Tiago já com medo do que Roberto tinha visto, entra no carro, logo em seguida seu pai entra e aceleram o carro em direção à estrada.
Vinte minutos depois o casal chega ao hospital e entram às pressas. Diego, marido de Laura, chegou na recepção solicitando um médico para examinar a mão de Laura. Achando um pouco de exagero, tentava acalmá-lo enquanto ele suplicava por uma consulta.
Então a secretária pediu os documentos de sua esposa e pediu para entrar no corredor 1.
― Meu bem, não tinha necessidade de causar todo esse quase escândalo, o corte é pequeno. - respondeu enquanto seu marido o levava para a sala indicada.
Diego deu de ombros e então entraram na sala. Laura teve sua mão examinada e como havia dito, o corte não foi grave. Levou três pontos e estava liberada.
No caminho os dois ficaram em silêncio. Laura estava sentindo sua mão arder, mas preferiu não se manifestar sobre.
Enquanto isso na casa:
― Você viu, Alice, o drama do seu pai ao ver ela com um corte minúsculo?
― Não fala assim, ele apenas se preocupa com a gente.
― Com a gente? Ele nem se importou da gente ficar nesse fim de mundo, claro já que o filho favorito foi junto. Você se lembra daquele verão que o Tiago pegou catapora e a gente veio pra cá? Está acontecendo de novo!
― Pára com isso Roberto, não quero falar sobre isso!
― Não adianta fugir, você sabe o que está acontecendo!
― Eu não vou falar sobre isso, era coisa da nossa cabeça de criança, vovó e vovô apenas passaram do limite na brincadeira. - falou desesperada enquanto lágrimas escorriam em seu rosto!
― Calma! Nada pode acontecer com a gente, só com eles. - sorriu diabolicamente.
Quando Alice começa sacudi-lo e pedir pra ele parar com aquilo do nada um barulho ensurdecedor vindo do quarto que era dos seus avós e agora estava trancado. Então Roberto seca as lágrimas de sua irmã.
― Está tudo bem, vamos! - disse puxando o braço para que ela o siga.
Eles caminham até a porta. O barulho só aumentava a cada passo. Quando Roberto coloca a mão na maçaneta e começar a girá-la, a porta destrava e como um estouro os dois são arremessados para trás.
Minutos depois seus pais chegam e encontram eles jogados no chão e vão imediatamente em direção aos seus filhos. A mãe totalmente desesperada abraçou seus filhos enquanto Diego entrou no cômodo. No mesmo momento a porta se fechou com toda força. Desesperado tentava abrir a porta de todo jeito, mas sem sucesso.
Laura abraçada com seus filhos, gritava por seu marido aos prantos.
Ainda tentando abrir a porta, Diego pausou ao notar que uma sombra de dois metros surgiu atrás de si. Sua respiração ficava cada vez mais intensa, mais ofegante quando notava que a sombra se aproximava mais e mais. Respirou fundo e virou para a direção da sombra, porém ficou mais assustado quando notou que não tinha nada no quarto. As luzes começaram piscar sem parar, com uma velocidade inexplicável, as portas do guarda-roupa começaram abrir e fechar sem parar com total força, ao ponto de uma delas quebrarem. Diego estava se sentindo amedrontado com tudo o que estava acontecendo. Após alguns segundos tudo cessou e ficou em um completo silêncio, mas ainda com medo, continuava paralisado e sem reação.
Laura notando o silêncio, pediu para que seus filhos fossem para o quarto e ficassem até ela ordenar. Levantou lentamente, se aproximou da porta, mexeu na maçaneta, mas ainda permanecia trancada. Não se escutava uma palavra sequer de Diego, um silêncio total.
Logo Laura lembrou da chave reserva e foi buscar imediatamente. Minutos depois voltou e para seu espanto a porta estava aberta, porém Diego não estava no quarto e isso a deixou muito assustada.
Respirou fundo e seguiu para todos os cômodos, porém não o encontrou. Mas lembrou de que havia um cômodo do qual sempre vivera trancado, então seguiu em direção a ele.
Ao encostar na maçaneta, a porta se abriu e logo avistou seu marido num dos cantos, encolhido, chorando e amedrontado. Ela caminhou lentamente em direção de Diego e ao se aproximar, seu marido com uma voz totalmente rouca, declarou:
― Agora você acredita? Acredita nos seus pais? Entende o porquê dessa casa ser inabitável? Seu marido já não está mais aqui, eu sou o novo dono deste corpo. E não há nada que possa fazer para me impedir, seus pais fizeram de tudo, porém sou mais poderoso… Pare agora com essa maldita reza! - respondeu enquanto Laura rezava mentalmente.
Laura apenas continuava em sua reza, nada dizia. Porém assustou-se ao ver o corpo de seu marido com suas veias saltadas e parou sua reza, o que fez a entidade aproveitar para atacá-la.
Começou sufocar Laura aos poucos até já não conseguir mais respirar. Então novamente tentou rezar mentalmente e por seu alívio deu certo, ele logo a soltou. Aproveitando a oportunidade saiu correndo em direção ao quarto onde seus filhos estavam. Entrou e pediu para que todos eles rezassem apenas mentalmente, logo iniciaram e no exato momento um grito estridente surgiu e com apenas alguns segundos o silêncio retornou.
Começaram escutar passos em direção ao quarto e juntos empurraram uma cômoda para impedir a invasão. Os passos pararam. Ficaram quietos encarando a porta quando a mesma e a cômoda foram arremessadas longe. Diego estava parado, olhando fixamente para as crianças e completamente ofegante. Laura fez um gesto e todos começaram rezar em tom alto. A entidade gritava muito mais alto do que a primeira vez, até um momento em que tudo cessou e Diego caiu desmaiado.
Laura ordenou para seus filhos pegarem o necessário e irem para o carro. Laura segurou seu marido no colo tentando acordá-lo e para seu alívio conseguiu. Levantou-se, pegou seu marido no colo e seguiu em direção ao carro.
Decidiram que nunca mais voltariam para aquela casa, iriam demoli-la e nunca mais voltar para a cidade.
Escrito por: Morgan e Mikaella.
Comentários
Postar um comentário