O Segredo da Mansão Torres

Nicole estava em uma limusine.
Nunca em sua vida esperaria ser adotada, e nem em seus mais agradáveis sonhos ela seria adotada por uma família rica o suficiente para ter um carro daquele porte, com motorista particular e tudo mais. Nicole sabia: Pessoas de pele negra são as últimas a serem adotadas ou nunca são. E ela morava no orfanato há tempo demais para acreditar que um dia seria. Mas ali estava ela, sentada naquele banco estofado de couro branco, sentindo um cheiro de carro novo ao qual nunca havia sentido antes.
Ao lado dela estava a Srta. Torres, uma mulher branca, bonita e sorridente. Ela usava um chapéu azul e um vestido comportado até as canelas, que Nicole poderia jurar que teria saído de algum filme ambientado do século XIX, que vira na Sessão da Tarde, na velha TV de tubo do orfanato.
― Pode me chamar de Betty, querida.  — disse a Srta. Torres quando Nicole perguntou de forma tímida onde era a casa. Será que conseguiria reencontrar seus amigos que fizera no orfanato?
Esse pensamento apertou o coração de Nicole como uma mão gelada e cadavérica. Pelo menos a sua colega Letícia estava com ela. A garota tinha 14 anos, dois anos mais nova que Nicole. As duas foram adotadas por aquela família. Nicole Torres pensou, sentindo o quão bonito seu nome ficara ao lado daquele sobrenome imponente, e se sentiu mais uma vez sortuda e esperançosa.
― A casa é enorme, vocês vão adorar. Tem até casa na árvore! — disse então a Srta. Torres. Isso fez Letícia olhar para Nicole com um sorriso resplandecente.
― Mas é proibido fazer barulho dentro da casa. A Sra Torres não gosta de barulho. — e fez uma careta debochada, que fez as meninas rirem.
Nicole era a que mais questionava sobre a casa, a família e o local. Letícia falava pouco, mas prestava atenção em tudo, sentia-se muito ansiosa para a chegada em sua casa e para conhecer seus pais. Enquanto escutava sua irmã, enrolava em volta de seu dedo indicador uma mecha fina de seu cabelo preto. Horas se passaram e chegaram na casa. Nicole e Letícia ficaram maravilhadas com a entrada.
O portão preto ao estilo medieval se abrira automaticamente. Ainda tinha uma pequena estrada para chegar à tão esperada casa. Letícia estava encantada com as enormes árvores do caminho. Chegaram após cinco minutos e ficaram boquiabertas. Admiradas com a beleza da casa, ou melhor dizendo, da mansão que vão morar. Nem mesmo o orfanato era tão grande quanto a mansão.
As garotas foram recebidas por um mordomo bem vestido, que também parecia ter saído de um filme do século XIX. Ele pegou as malas das garotas e as carregou para dentro. O sujeito era taciturno e não falava nada além do que a etiqueta exigia.
 ― Vamos para dentro! Vou mostrar a casa para vocês! — Srta. Torres, ou melhor, "Betty" parecia muito animada, e Nicole até achava que já tinha nutrido um pingo de simpatia pela mulher. Entraram.
Letícia estava deslumbrada, olhava para todos os lados com a boca aberta de admiração. De fato, a casa era magnífica: No salão de entrada havia jarros de porcelana e um tapete enorme forrava o centro do lugar, e seguia até a grande escada. Betty as mostrou os principais lugares da casa. Salas, a varanda florida e bem cuidada, a cozinha enorme que exalava cheiro de rocambole. Indicou o sótão e o porão, mas dissera que não poderiam entrar nesses lugares, pois segundo a mulher, haviam coisas perigosas para duas crianças. Conheceram Matilde, a governanta velha e um tanto acima do peso, e todos os sete empregados do casarão. Betty sempre alertava, entre um cômodo e outro, que não poderiam correr nem fazer barulho ali e que a Sra. Torres não podia ser incomodada. Nicole não se importava com as novas regras, afinal, nunca fora uma criança barulhenta e já passara da idade de correr para lá e para cá. Mas a cada menção à Sra. Torres, um misto de curiosidade e medo lhe abatia. Algo de errado que ela não conseguia dizer ao certo, como um sentimento esquisito e inominável que começava a crescer como uma erva daninha.
― Onde está a Sra. Torres?- perguntou Letícia com curiosidade genuína.
― Na cama, repousando. Logo logo vocês a conhecerão, não se preocupem. — respondeu Betty.
Após conhecerem toda a mansão, foram levadas para o quarto onde ficariam juntas. O cômodo era branco, assim como o guarda-roupa, a penteadeira e uma das camas. O espelho no formato oval e outra cama na cor dourada.
Sentaram-se em suas camas e comentaram sobre sua nova moradia. Após uma longa conversa, Nicole foi tomar banho e Letícia ficou esperando sua vez. Então resolveram ir ao jardim. Ficaram admirando a paisagem com flores coloridas seguidas de árvores monumentais. Betty ficava de longe observando cada movimento que as meninas faziam, analisava com muita atenção.
Enquanto conversavam, chegaram uma conclusão: Iriam explorar todo o local.
Primeiro, as garotas deram a volta pela mansão, do lado de fora. Nicole tinha o sentimento esquisito crescendo dentro do seu peito. Aquela mansão parecia uma entidade quase onisciente, com janelas escuras espalhadas ao redor dos dois andares, que mais pareciam olhos observando e encarando.
Até Letícia pareceu se incomodar, pois segurara a mão de Nicole com força.
O vento batia forte nas árvores, produzindo um chiado alto. Foi quando, ao chegar no lado leste da mansão, avistaram outra casa. Dominadas pela curiosidade, as garotas se aproximaram, e Nicole percebeu que poderia ser um galpão, granja, curral, ou até mesmo um abrigo antibombas, porque diferente de toda construção de aspecto secular, aquele lugar era metálico e contemporâneo.
Nicole e Letícia se entreolharam, e caminharam para o grande portão daquele lugar desconhecido.
O medo já havia tomado conta das garotas, mas de alguma forma o convite daquele galpão metálico era tentador demais para resistir. Ao contrário do casarão, não havia janelas, nem nada que desse para observar o que havia lá dentro. Nicole colocou a mão numa grande maçaneta puxável. Trancado.
― Meninas! — Betty gritou e Letícia pulou de susto.
― Isso não é lugar pra crianças. Vamos entrando, os rocamboles ficaram prontos.
― Vamos, Nicole! Voltamos na próxima oportunidade! — sussurrou Letícia.
― O que será que guardam lá? — perguntou Nicole enquanto caminhava em direção a mansão.
Entraram na mansão com suas curiosidades instigadas. Betty as advertiu para não se aproximarem da casa e levou para a mesa.
Comeram os rocamboles com afinco. Depois daquela longa viagem, as meninas estavam com bastante fome, e aqueles rocamboles estavam especialmente deliciosos. Letícia dissera que nunca provara algo tão delicioso, mas Nicole sentiu um amargor indecifrável. Matilda ficara caso precisassem de algo. Ficaram ali por mais algum tempo até que Betty pediu para que fossem até a biblioteca para que ela dissesse sobre os estudos. Como de costume, sempre juntas, pediram licença a Matilda. Entraram e se surpreenderam com a quantidade de livros que ali haviam. De todo o gênero, de vários autores. Olharam algumas das prateleiras e sentaram na mesa. Escutaram com muita atenção os horários e aulas que irão ter. Nicole sempre com o pensamento na outra casa que vira. Após alguns minutos, foram para o quarto. Cada uma arrumou a sua parte do guarda-roupa. Ao terminarem, ficaram por ali mesmo conversando. Afinal, eram novas e não queriam ficar andando pela casa.
Já era noite e ambas estavam prontas para o jantar. Betty decidiu levá-las pessoalmente. Seriam apresentadas para a família, Letícia e Nicole estavam muito ansiosas para ver Sra. Torres.
A mesa já estava posta, com pratos tão chiques quanto antiquados. Ao lado, garfos e facas de diversos tipos e tamanhos.
Nicole engoliu em seco, pois não conhecia nada daquela mais alta etiqueta. Letícia pareceu não se importar, estava com fome demais, e estava ansiosa para provar comida de verdade. No orfanato a comida não era ruim, mas era muito simples e repetitiva.
― Matilde, pode trazer a Sra. Torres. — As meninas se sentaram, tensas, pois finalmente conheceriam a mulher misteriosa. Na cabeça de Nicole, se tratava de uma velha ranzinza e odiosa. Lá no fundo, a garota tinha raiva de todas as pessoas velhas. Para ela, os idosos eram lerdos, falastrões, ranzinzas e soltavam peidos sem se importar com ninguém.
Mas a verdade era que Nicole não odiava gente velha, ela odiava a ideia de ser velha.
Após alguns minutos, a governanta trouxe uma mulher idosa e gorda (ainda mais do que Matilde) numa cadeira de rodas.
― Crianças, essa é a Sra. Torres. — disse Betty, sorrindo.
Todas as expectativas de Nicole quebraram-se como se um daqueles jarros de porcelana tivesse caído do sétimo andar.
Sra. Torres era velha, sim, mas não era como uma bruxa má dos contos infantis. Era frágil. Débil. Um filete de baba escorria de sua boca, ela tinha um olhar perdido em um vazio sem propósito. Suas mãos eram retorcidas e sem movimento.
As garotas observaram quietas e um tanto horrorizadas com a péssima condição de saúde da Sra. Torres.
― Hora da comidinha! — Betty falou alegremente, com naturalidade. A palavra "comidinha" fez a Sra. Torres se contorcer com agonia, com espasmos desesperados. Ela balbuciava alguma coisa ininteligível, enquanto Matilde enchia a boca dela com rocambole. A cena era horrível. Nicole olhou para Betty, que assistia aquele show de horrores com um sorriso no rosto.
― Coma tudinho, mamãe. — disse ela com uma ternura macabra. — É pro seu próprio bem.
Sra. Torres, tentava, mesmo com movimentos mínimos, não comer, mas infelizmente acabava comendo. Nicole e Letícia tentavam disfarçar o incômodo pela cena. Alguns minutos depois todos foram servidos. Letícia, ao comer o primeiro pedaço de carne, achou uma delícia, nunca havia comido um prato tão gostoso. Exceto Nicole que, ao colocar primeiro pedaço em sua boca, sentiu ânsia. Um gosto de amargo forte. Para não fazer desfeita, comeu tentando esconder o seu nojo. Betty viu a expressão de Nicole, mas preferiu conversar após o jantar.
Depois de todos comerem, as meninas despediram-se e acompanharam Matilde até o quarto. Colocaram o pijama e deitaram-se cada uma em sua cama.
Quando a empregada ia fechar a porta, Betty apareceu dizendo para que deixasse ela a sós com as meninas. Matilde assentiu e saiu.
― Estão acomodadas? Precisam de mais alguma coisa? — perguntou olhando atentamente com um sorriso forçado.
― Estamos sim, obrigada! Estamos muito felizes por tudo o que estão fazendo conosco. — respondeu Letícia quase em um choro de emoção.
― Fico muito feliz por escutar essas palavras! — disse ao dar um beijo na testa. — Durma bem, querida!
― E você, Nicole, o que mais gostou de hoje? — questionou olhando atentamente.
― Gostei de tudo! As pessoas, o lugar, a Sra. Torres... — disse lembrando da situação da mulher.
― Vi que você fez careta enquanto comia. Não gostou da comida? — perguntou séria.
― Go-go-gostei sim — gaguejava Nicole — Talvez por ser algo diferente eu tenha feito. Prometo que não irá se repetir. — respondeu sem graça.
― Fazer careta é feio! Comida é sagrada. — disse Betty. — Boa noite, minha querida! — despediu-se com um beijo na testa.
Betty saiu e as duas foram dormir. Mais tarde, 02h00, Nicole perdeu o sono e ficou encarando o teto e logo lembrou da casa misteriosa. Sem pensar duas vezes, levantou-se cautelosamente e foi até a cama de sua irmã.
― Letícia, acorda! Acorda... — chamou enquanto cutucava.
― O que é? Já deu horário de levantar? — respondeu sonolenta.
― Não... Eu tive uma ideia. Vamos naquela casa que vimos mais cedo. — respondeu contente.
― Agora?
― Sim! Agora. Pega seu casaco e vamos! — disse Nicole ansiosa.
Ambas pegaram seus casacos e saíram lentamente do recinto. Andavam lentamente e atentas ao redor. A mansão era enorme, mas Nicole quando entrou, prestou atenção em cada cômodo.
Após andarem bastante, encontraram a porta principal, mas estava trancada. Então Nicole disse para irem pelo cômodo dos empregados, já que a porta ficava sempre aberta. Abaixaram-se e rastejando conseguiram sair. Mas o problema seguinte era ir para fora. Quando Letícia ia desistir, Nicole pensou em um plano. Fingir uma invasão. Escondidas, Nicole jogou uma pedra na porta e voltou onde estava. Os seguranças imediatamente comunicaram em seus rádios. Ambos foram até onde escutaram o barulho e acionaram os demais.
De mãos dadas e às pressas, pegaram uma escada que avistaram. Colocaram cautelosamente e subiram uma cada vez. Caíram na grama, mas por conta de alguns galhos, tiveram alguns arranhões em seus braços, mas nada grave. Aliviadas, correram até se distanciar dali e mais para frente diminuíram os passos e logo chegaram. Na escuridão da noite, aquele lugar se tornava mais tenebroso. Nicole rodeou a casa para encontrar o esconderijo da chave, mas nada encontrou. Para sua sorte, tinha um martelo no chão.
— Isso deve servir. — disse Nicole para si mesma- Letícia, você vigia. Se vir alguém, me avisa!
A garota assentiu, engolindo em seco.
— A gente não deveria estar aqui. E se Betty descobrir? Vão devolver a gente pro orfanato! — o medo (e talvez o bom senso) tomava conta de Letícia.
Nicole suspirou pesado.
― Tem alguma coisa errada nesse lugar, Letícia. Eu sinto. — segurou o martelo com força e caminhou até a porta de metal. Letícia olhou ao redor, sentindo o medo apertar-lhe as entranhas, deixando a garota com uma vontade enorme de fazer xixi.
Nicole colocou o martelo por trás da maçaneta de metal e o forçou para frente. Nada. Então usou os pés e o peso do corpo para impulsionar martelo. A maçaneta entortou e se partiu com um estrondoso clangor metálico, que ecoou pelo ambiente silencioso da madrugada. 
― Nicole! Os guardas! — sussurrou Letícia, e correu para segurar no braço da amiga. A imagem de irmã mais velha dava a Letícia uma sensação de proteção, tanto quanto cobrir todo o corpo com lençóis dava a sensação de proteção contra os monstros imaginários debaixo da cama.
Nicole pensou em correr com Letícia, voltar para o quarto e implorar desculpas para Betty. Dizer que sentia muito, e que iria ser uma boa garota. Que iria parar de xeretar onde não devia, e que pararia de fazer caretas na mesa. Mas tudo que Nicole conseguiu fazer foi abrir a porta de metal e entrar naquele antro desconhecido. Letícia seguiu.
Um frio grotesco atingiu as garotas, arrepiando os cabelos da nuca. A luz se acendeu sozinha, possivelmente por causa de algum sensor de movimento. O que as duas viram, mudou-as para sempre.
Um horror indescritível surgiu, ao ver o que havia naquele lugar maldito. Vários corpos pendurados, mutilados, com olhares vazios e bocas abertas, congelados em uma expressão de dor suprema. Corpos de crianças nuas, abertas ao meio, dessangradas. 
As garotas estavam ali, paradas. Tão congeladas quanto aqueles corpos mortos acima delas, penduradas como porcos.
― Meninas? —  era a voz de Betty lá fora. 
Letícia se urinou.
Nicole ficou paralisada de costas para a porta  e respirou fundo.
― Pode nos explicar do que se trata esses corpos? — perguntou sem se virar. 
― Não é do interesse de vocês. Nem deveriam ter voltado para cá! Como ousaram sair da mansão para vasculhar? E eu achando que vocês seriam boas meninas… Oras… — respondeu Betty irritada. 
― Nós seríamos suas próximas vítimas? — questionou Nicole ao olhar nos olhos de Betty.
― Não piore a situação, por favor… — sussurrou Letícia.
Letícia entrou na casa para se esconder se encolhendo num canto escuro e sujo. Betty se aproximou da porta, mas Nicole a ameaçou. Betty avançou para cima da garota. Em resposta, Nicole deu uma martelada no seu polegar, fazendo a mulher soltar um grito estridente. Com muita dor, Betty não desistiu de pegar a garota. A empurrou para dentro daquele lugar horrível e em seguida trancou a porta. Quando a luz se acendeu, notou que as meninas estavam escondidas.
Atrás de caixas de madeira de conteúdo desconhecido, Nicole viu Betty segurar seu polegar machucado, com uma fúria eletrizante nos olhos. Ao invés dela procurar as garotas, ela saiu e fechou a porta, fazendo tudo ficar escuro outra vez. Completamente escuro. 
Agarrada ao braço de Nicole, Letícia chorava, com os olhos fechados. Nicole queria dizer algo tranquilizador, mas nada saía da sua garganta. O que acontecia naquele lugar era horrível demais, e se elas não fossem espertas o suficiente, teriam um destino fatal. 
― Temos que fugir — conseguiu dizer, levantando-se. A luz se acendeu mais uma vez, pela detecção do movimento. Nicole puxou Letícia e caminhou até a porta de metal.
― Onde Betty foi? — dessa vez Letícia que falou.
Nicole abriu a porta e olhou cautelosamente para fora, e viu dois guardas vindo. Nada de Betty. 
― Vamos! — disse Nicole e saiu correndo em direção à frente da mansão. Letícia a seguiu chorando. Os guardas viram as garotas ao longe e correram, se comunicando nos rádios. 
As garotas correram como nunca na vida, e quando chegaram na frente da mansão, a porta se abriu. Betty estava descabelada, com uma espingarda velha na mão e um sorriso alucinado. 
― Meninas travessas. — disse ela impaciente. 
― Corre pra limusine! — gritou Nicole para Letícia. Letícia correu desajeitadamente e Betty mirou.
Nicole correu na direção de Betty, com um engasgo de raiva e ódio acumulado na garganta. Betty atirou, e Letícia soltou um grito agudo. Nicole então pulou em cima de Betty, fazendo-a cair no chão. Betty se debatia, tentando se livrar da garota, enquanto Nicole tentava  tomar a espingarda de suas mãos. A garota era persistente. 
Nicole, que mais parecia um animal selvagem de tanta fúria, mordeu a orelha de Betty, que soltou outro grito estridente. Nicole continuou mordendo e puxou, arrancando boa parte da orelha da mulher maldita. Betty gritou de dor, colocando uma das mãos no que restava da orelha.
Nicole cuspiu a carne sangrenta na cara de Betty,puxou a espingarda e ficou de pé. 
Larga a arma! — gritou um dos guardas. Eles deram a volta na mansão, e agora apontavam suas armas para Nicole. 
Nicole não pestanejou. Engatilhou a espingarda, como nos filmes de faroeste que vira na TV velha do orfanato e apontou pra cabeça de Betty, que choramingava e implorava pela vida. Nicole atirou, fazendo a cabeça da mulher maldita  explodir numa massa sangrenta. Os guardas correram para conter a garota, mas ela apontou a espingarda e eles pararam. 
Sem tirar a arma da direção dos homens, Nicole andou em direção à limusine, até sentir o corpo de Letícia jogado ao chão. Lágrimas jorravam de seus olhos, ao ver a amiga morta. A irmã. Nicole tentou abrir a porta da limusine, mas estava trancada. Não tinha a chave, nem sabia dirigir, mas tentaria mesmo assim. Sem outra opção, saiu correndo em direção à saída.
Corria inconstantemente por onde a escuridão dominava. Tentou ser mais rápida ao escutar barulho de tiros, se escondeu mata a dentro e esperou o barulho cessar. Demorou por volta de dez minutos. Nicole respirou fundo e tornou correr em direção a estrada. Quase uma hora  depois finalmente estava próxima ao destino e sabendo que estava longe do caminho da horrível mansão, parou de correr. Percebendo que se aproximava da estrada, sentiu-se aliviada, porém com uma enorme tristeza e ódio, não queria ter deixado sua irmã por lá, mas tinha de procurar ajuda.
No acostamento levantou seu braço direito e acenava para todos os carros que ali passavam, sentia medo de ter azar na carona, mas insistia. Com alguns minutos de tentativa, finalmente conseguiu uma carona. Respirou fundo e caminhou até o carro.
― Por favor! Eu preciso de uma carona para um orfanato! Me ajude! Mataram minha irmã na mansão próxima daqui. Eles estão vindo atrás para me matarem também. Me ajude! — disse desesperada.
― Entre no carro! Eu te ajudarei. Qual o seu nome? — respondeu a motorista. 
― Nicole. Muito obrigada! Naquele lugar moram monstros! — disse Nicole aos prantos. Minha irmãzinha se foi e eu nem pude protegê-la.  
Nicole disse o endereço do orfanato e foi levada. Algumas horas depois, quando chegou, agradeceu a moça e disse que poderia ir embora, mas a motorista preferiu esperar alguém aparecer, que não demorou muito para tal. Quando a porta foi aberta, Nicole pulou nos braços da diretora e chorou chegando a soluçar. Sem entender, perguntou o que estava acontecendo e onde estava Letícia. Nicole implorou para entrarem pois precisava contar algo muito sério. Despediram-se da moça e entraram. Rosana deu um copo de água para Nicole e esperou se acalmar. 
Nicole não sabia por onde começar e como contar sobre a terrível morte de sua irmã. Rosana sem entender nada pediu para que explicasse o que estava acontecendo. 
― O que aconteceu? Por que está aqui a essa hora? Cadê Letícia? — perguntou preocupada.
Então todo o ocorrido foi explicado com mínimos detalhes e disse sobre a grotesca casa. Assustada com o que acabara de escutar, foi até seu escritório. e ligou para a polícia. Avisou sobre o que aconteceu para os funcionários e para as meninas que ali moram. Não demorou muito e logo a viatura estava em frente ao orfanato.
Nicole contou para os policiais e foi pedido por Rosana para que ela ficasse, mas insistiu para que fosse junto e então seu pedido foi aceito.
Ao chegar na mansão outra vez, já estava amanhecendo. Os policiais averiguaram os arredores da grande mansão e encontraram o galpão na parte de trás. O tão horrível galpão que escondia vários corpos de crianças como Nicole, Letícia ou qualquer outra do orfanato. Viram Betty Torres morta na entrada da mansão. Curiosamente, os guardas também estavam mortos, assim como Matilde. Mas o mais curioso de tudo, era que a Sra. Torres havia sumido.

Escrito por Morgan e Jorge.

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