Não Queremos Visitas

Muitas crianças feridas, muitos quartos lotados, muitos choros de agonia e dor. Assim se encontrava um hospital infantil em meio à guerra. 

O dia estava corrido para todos, o número de pacientes havia aumentado desproporcionalmente, estava desesperador. O próprio caos, mas não bastava apenas isso. 

Só não esperavam que uma bomba atingiria em cheio, acertando metade do hospital. Nessa região não houveram sobreviventes, já no outro lado o desespero tomara conta de todos. Correria para todo lado, corpos de pacientes sendo abandonados, crianças correndo sem ao menos saber onde ir. Os que sobreviveram, abandonaram o local sem ao menos poder dá um digno enterro para os demais.  

 Após o término da guerra, familiares combinaram de se encontrar no hospital, onde não fora atingido, para prestar homenagens.  

Então formaram uma fila para entrar. Deixavam na porta uma fotografia, um objeto, alguma vestimenta, até mesmo bilhete, algo que remetesse à pessoa e conforme entravam, sentiam energia muito negativa. 

Uma das famílias tinha uma criança, a qual levantou seus braços e sorriu assim que entrou no local. 

Segurou algo no ar e seguiu para uma direção oposta de seus pais. Estava sendo levada onde era o quarto dos brinquedos. Assim que adentrou, acelerou seus passos em direção aos brinquedos. Todos estavam sujos, rasgados, quebrados, com mofo, poeira, estava um próprio filme de terror. Mas isso não a impediu de brincar, porém não havia apenas brinquedos por ali, ela não estava sozinha. Estava acompanhada, era uma das enfermeiras mais importantes da época. Foi atingida enquanto tentava reanimar seu paciente, um menino de 10 anos. 

Enquanto se entretinha com os brinquedos, se alegrou ao ver mais crianças entrarem, porém não imaginava que todas elas já não eram de seu mundo. Ficaram ali presas, não só as almas, mas seus corpos estavam ali também. Seus ossos acabaram sendo espalhados devido a explosão. 

Na visão da menina, o hospital estava cheio de crianças, médicos, enfermeiros, só que não imaginava que estavam todos mortos.  

Pegou um dos brinquedos, o que tornara seu favorito e seguiu a enfermeira. Estava indo onde era o quarto de cirurgia. Havia equipamentos espalhados, instrumentos, pedaços do que parecia ser as roupas dos cirurgiões, mas nada se comparava ao horror da maca. Pequenos ossos pousados sobre ela, e pela posição, provavelmente estava passando por uma cirurgia. A roupa já quase não existia mais, havia apenas alguns pedaços. 

Então a garotinha seguiu para o outro cômodo junto a enfermeira. Por onde andava, encontrava várias crianças, as que foram atingidas pela bomba.  

A mãe da menina super preocupada pelo sumiço de sua filha começara andar às pressas, por cada cômodo acessível. Seu marido desesperado perguntava se alguém tinha visto sua filha, porém nenhuma resposta positiva. Continuaram andando por todo o local, quando a mãe foi surpreendida pela risada de sua filha. Quando finalmente alcançou, viu que ela estava brincando com algo invisível, entregando um pequeno ursinho todo encardido para alguém que só a criança enxergava. Preocupada da pelúcia estar contaminada, foi logo tirando de sua filha e jogando longe. Mas sua filha a repreendeu. 

 Me devolve, mamãe! Ela não gostou do que você fez. Ela está muito brava! - disse a criança. 

 Ela quem, minha filha? Não tem ninguém além de nós. - respondeu assustada.  

 Tem, mãe! Ela se chama Maria, mamãe. E ela está muito zangada com o que você fez... - respondeu com receio do que sua amiga poderia fazer.  

Sua mãe completamente assustada, agarrou-a pelo braço e saiu às pressas, mas o que não esperavam é que junto de Maria, estavam todos seus amigos. 

Ao se aproximarem da porta, escutaram várias vozes de crianças para que a menina ficasse, mas saíram e fecharam a porta. Já no corredor, a mulher encontrou seu marido. Com lágrimas nos olhos, lhe relatou tudo. Ele também presenciou algumas coisas. Sentiu-se perseguido, foi tocado por mãos pequenas e gélidas e pôde escutar uma criança pedindo por ajuda. 

Ao se aproximarem do grupo, escutaram de outras pessoas que também passaram por algo. 

As crianças ali ainda estavam, ali tiveram suas almas presas, sem entender que estavam em outro mundo. E por acharem que ainda estavam vivas e sozinhas, afastava toda pessoa que entrava naquele local. 

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