O Espelho, A Verdade
Há dias venho tendo uma sensação estranha e é sempre quando me olho no espelho. Não, não tem nada a ver com meu corpo, nada com minha aparência. Pensei em várias palavras para descrever a sensação, mas nenhuma se encaixa.
Isso começou numa madrugada tempestuosa, quando acordei assustada por causa de um entre vários trovões. Sentei-me na cama ainda ofegante, tentando controlar minha respiração, o que ajudou e logo eu estava melhor. Enquanto percorria os olhos pelo quarto pouco iluminado pela lua, deparei com algo estranho ao me olhar no espelho de frente para minha cama. Eu era um vulto de olhos vermelhos intensamente brilhantes, assim como uma pedra Rubi. Esfreguei os olhos, olhando-me novamente no espelho e apenas aqueles olhos vermelhos continuaram. Passei minha mão destra por eles. Ainda vermelhos. Peguei um espelho menor que eu deixo sobre a mesa de cabeceira, mas não havia nada, olhei novamente para o espelho de frente à minha cama e lá estavam meus olhos de Rubi.
Pensei que era devido ao susto por isso eu estava vendo coisas. Balancei a cabeça em negativo rindo da situação e me deitei, encarando o teto por alguns minutos até pegar no sono sem perceber.
Acordei por volta das 06h00, ficando alguns minutos deitada e então me levantei indo para o banheiro. Lavei o rosto e quando me olhei no espelho instantaneamente me lembrei do que ocorreu noite passada. Não havia nada em meu rosto, também não havia vulto. Saí do banheiro e segui para a cozinha, bebi um pouco de água e tornei para a cama. Acordei às 08h00 e não consegui mais dormir.
Após me vestir, fui para a cozinha preparar meu café que basicamente era um chá e pão. Em dias de chuvas eu gostava de ficar em silêncio escutando o som dela, é como um calmante para minha mente. Terminei o chá e lavei o que foi usado.
Estava na rua, aproveitando que a chuva parou, indo resolver algumas coisas pendentes, já que estava de férias do trabalho. Andei por longos minutos e durante a caminhada eu apaguei… Desmaiei talvez? Parecia que algo tomou o controle de meu corpo, o que ficava mais estranho. Acordei num lugar totalmente diferente, longe de onde eu estava. Olhei minha bolsa e nada foi roubado, estava intacta. Logo lembrei da noite passada. Com certeza tinha algo a ver.
“Acordei” na calçada de uma loja com uma mulher me olhando estranho, com expressão de reprovação. Estranhei, pois, eu só estava ali na calçada apenas. Incomodada, me levantei para ir embora, mas antes que eu saísse, a mulher me abordou.
— Se não voltar mais aqui, ficará entre nós, vou deixar isso passar.
Sem entender nada, a questionei.
— O que ficará entre nós? O que eu fiz?
Mas ela simplesmente entrou na loja e fechou a porta antes que eu perguntasse mais alguma coisa.
Receosa eu saí sem nem olhar para trás. Estava meio desequilibrada, cambaleante e mesmo assim segui para onde eu pretendia. Eu estava totalmente o oposto do caminho antes desse estranho ocorrido.
Andei em dois ônibus e logo eu estava no destino. Depois de uma hora consegui resolver o que precisava, fui almoçar em algum restaurante por perto.
Escolhi uma mesa mais ao fundo e solicitei o cardápio. Pedi um prato simples e um suco de limão.
Enquanto estava comendo, apaguei de novo. “Acordei” e me deparei com algumas pessoas à minha frente comentando algo entre elas, com olhares de reprovação para algo que fiz supostamente. Percebi que havia suco derrubado em mim e um pouco de comida espalhada pela minha mesa. Senti um enorme constrangimento e resolvi pagar minha conta. Quando me aproximei do caixa, a atendente chamou minha atenção:
— Me desculpe em falar isso, mas não estou a fim de perder clientes, se por acaso acontecer de novo terei de retirá-la daqui, senhorita.
— Mas o que fiz? - perguntei muito mais preocupada.
— Estou com muito clientes para atender, poderia me dar licença?
Preferi sair. Paguei e saí dali, ainda sendo olhada de maneira rude. Estava começando a sentir medo. Eu temia acontecer algo mais grave, temia machucar as pessoas. Andando alguns metros eu consegui encontrar um táxi. Aproximei-me da janela do passageiro e perguntei se estava disponível e por sorte estava.
Cheguei em minha casa, paguei o motorista e saí. Entrei, coloquei minha bolsa no cabideiro e segui para o banheiro. Tomei um relaxante banho, tentando entender o que estava acontecendo comigo e relembrando a madrugada mais estranha que eu já tive.
Banho tomado, fiquei lendo um pouco para me distrair.
~ // ~
Estava preparando o jantar, cortando os tomates para a salada. “Acordei” com meu dedo indicador sangrando muito. Peguei o pano mais próximo e enrolei em meu dedo que, por sorte logo parou de sangrar. Fiz um curativo e liguei para minha amiga, estava apavorada.
— Boa noite, minha amiga! Está ocupada? Queria muito que dormisse aqui comigo hoje, estou com medo. — disse já com lágrimas nos olhos.
— O que houve, Raquel? Vou pegar umas coisas e já estarei aí, prometo chegar logo!
— Muito obrigada, mesmo! Não demore por favor.
Desligamos o telefone e me sentei no sofá, não queria sair dali por nada, tinha medo de algo pior acontecer. Não demorou muito e ela já estava em casa.
Assim que ela chegou, contei tudo o que aconteceu, desde a madrugada até alguns minutos atrás. Ela ficou tentando me acalmar e decidimos assistir filmes. Paramos por volta da 01h da manhã e fomos dormir. Despedi-me e fui para o meu quarto. Cobri o espelho em frente a minha cama e me deitei. O sono não vinha e o medo só aumentava. Eram tantas perguntas sobre o que estava acontecendo comigo, pensei que ia surtar, mas o sono veio de uma vez, me fazendo dormir instantaneamente. Acordei duas horas depois, às 03h00 em ponto! Sentia um cansaço fora do normal. Levantei-me para ir beber água. Fiquei por alguns minutos encarando o chão e caminhei de volta para o meu quarto. “Acordei” na situação mais assustadora da minha vida. Eu finalmente pude observar o meu corpo sendo controlado, mas não foi nada agradável.
Minha amiga ensanguentada correndo de mim e eu com uma faca na mão, correndo atrás dela. Mas todas as portas estavam trancadas, eu não fazia ideia onde as “escondi”. Ela estava desesperada, apavorada. Quando passei por um espelho da parede do corredor, pude ver aquela imagem horrível do meu rosto novamente.
Então meu corpo aproximou-se dela, quase a alcançando, pronto para golpeá-la de novo e como defesa ela pegou a caneca de vidro que eu usei há meia hora. Quando estava prestes a remessar em mim, meu corpo foi mais rápido, correndo até ela, segurando por seu cabelo, a golpeando de novo, porém dessa vez ela não resistiu.
“Acordei” assim que a ataquei, entrando em desespero. Joguei a faca longe e procurei pela chave da porta principal, que depois de muito procurar, encontrei. Sem saber o que fazer, sai correndo pela rua, aos prantos.
Até hoje tenho os apagões, porém não me preocupo mais, já que estou aqui trancada sob os cuidados de especialistas.
Putz meu. Que baita conto. Ele é crescente e envolvente. Parabéns. Vou lhe seguir.
ResponderExcluirMuito obrigada! Fico imensamente feliz que tenha gostado.
ExcluirSeja muito bem-vindo!
Caralho que conto foda adorei parabéns Lady Morgan
ResponderExcluirMuito obrigada, Claudio!
Excluir