Porta número 06

Samuel, após semanas de pesquisas para sua hospedagem em São Paulo, havia chegado ao seu destino, um hotel, que coincidentemente, encontrou através de um e-mail que recebeu. Se hospedaria por alguns dias na capital porque teria um compromisso. Despediu-se do motorista e com sua pequena mala, entrou no hall do hotel.

A decoração era luxuosa. Em tom branco e dourado. O balcão era espaçoso, comportava cinco computadores. Era de um charmoso mármore branco com cinza. Atrás havia um grande painel, com dois metros de altura, na cor cinza-escuro, com inúmeros ganchos, onde ficavam as chaves.

Procedimento padrão feito, pegou a chave do quarto.

— Tenha um ótimo dia! - disse a recepcionista enquanto mascava um chiclete, com expressão de tédio.

Samuel respondeu com um aceno de cabeça, incomodado com a roupa da atendente manchada de algum molho. Segurando sua mala, seguiu para o quarto destinado. Virou para a direita e poucos passos depois, abriu a porta que dava para uma pequena sala de espera branca. Poltronas, mesa de centro, tapete, à sua frente, tudo na mesma cor, nenhuma a mais. Achou estranho, mas deu de ombros, estava exausto pela longa viagem e seguiu para a próxima porta.

Passou por trás da poltrona esquerda e caminhou alguns metros até a outra porta.

Ao abrir, começou a estranhar. Era uma sala do mesmo tamanho que a anterior, mas vazia. O que mais chamou a atenção do rapaz foi a temperatura do ambiente, que estava mais quente, obrigando-o a tirar sua blusa de moletinho verde, usando para limpar o suor de seu rosto e nuca.

Começando a estranhar, antes de prosseguir resolveu ir para o balcão, mas foi surpreendido ao notar que a porta onde entrara estava trancada. Desesperando-se, começou a bater com força e gritar para alguém abrir, só que não imaginava que os sons eram contidos, não podendo ser escutado por lugar algum daquele hotel. Mas devido ao calor, desistiu de se esforçar muito. Limpou-se novamente e seguiu.

Ao abrir a terceira porta, notou o calor mais intenso, ficando cada vez mais desconfortável. O cômodo era idêntico ao anterior, com o detalhe da luz piscando freneticamente, incomodando seus olhos. Mas assim que entrou, a porta também se trancou numa rapidez inexplicável. Ele se debatia, gritava, chutava com toda sua força e nada adiantava. Tirou sua camiseta devido à temperatura estar insuportável e guardou a peça em sua mala. Antes de prosseguir, pegou seu celular e ligou para a recepção, mas se desesperou porque ninguém o atendia, mesmo depois de quatro ligações. Na última tentativa o sinal havia se perdido completamente, não voltando mais.

Limpou todo o suor e com lágrimas nos olhos, sem saber o que estaria por trás da próxima porta, abriu a quarta. Respirou fundo e com muita dificuldade entrou. Lugar totalmente vazio, sem janelas e com aspecto de abandonado, malcuidado. Paredes mofadas.

Respirava fundo, tentando seguir, sentindo muita sede. Antes de fechar, esperou por alguns segundos, mas nada aconteceu e ele não conseguiu esperar. Abandonando sua mala, se arrastou em direção a porta, que parecia nunca chegar. Seus passos eram lentos, arrastados. Andou até a metade da sala. Parou para tirar seus sapatos e meias, mas notou que o chão também estava quente, dificultando seus passos. Com persistência continuou, chegando ao próximo destino após cinco minutos. Ficou parado por um instante, tentando recuperar seu fôlego, sentindo seus pés esquentarem cada vez mais. Ajoelhou-se para que seus pés descansassem até seus joelhos começarem a esquentar. Se apoiando na maçaneta para levantar-se, quase caiu porque a mesma estava perto de ser intocável devido à alta temperatura. Tomou fôlego, suspirou e sem pensar abriu a porta, soltando um grito que qualquer um poderia escutar. Com sua outra mão sobre a boca, tossiu algumas vezes.

O ambiente estava completamente abafado, a temperatura parecia estar por volta dos 50°C, ou até mais. Quando colocou seu pé esquerdo na sala, percebeu que não conseguiria ultrapassar, mas sentiu uma breve esperança quando notou algumas argolas grandes o suficiente para se segurar. Respirou fundo, analisou o caminho e seguiu.

A cada passo dava para sentir a pele de seus pés queimarem. A sua vontade era correr, mas seu corpo não o obedecia, o que era torturante. Focado em tentar sair, concentrou-se em continuar caminhando. Seus gritos eram estridentes, agoniantes. Poucos metros de uma argola, respirou fundo, recuperando o pouco do fôlego que ainda lhe restava e se jogou nela, caindo imediatamente no chão, queimando suas mãos devido à temperatura da argola que mesmo assim, ainda era suportável. Suas costas queimaram tanto quanto seus pés. Sem pensar muito, tirou sua calça e rasgou ao meio para enrolá-la nas mãos.

De argola em argola, Samuel conseguiu, com muita dificuldade, sair daquela sala.

Antes de abrir a próxima porta, fechou seus olhos por alguns minutos, implorando para que atrás houvesse a saída de seu pesadelo. Mas ao abri-la, se desesperou por completo. Não havia uma próxima saída, não havia uma próxima porta. E o calor…

Antes de dar o próximo passo, encostou-se na porta, tremendo de dor, mesmo estando anestesiado. O chão estava coberto pelo vermelho, a sola de seus pés quase não existiam mais.

Retirou de suas mãos o tecido que enrolou e jogou no chão para pousar os pés. Tentando não se entregar, olhou com dificuldade ao redor, para encontrar uma saída escondida e ao olhar um pouco acima, sorriu fracamente quando percebeu que havia uma saída de ar com tamanho suficiente para uma pessoa passar.

Com imensa dificuldade respirou fundo, fechou os olhos por alguns segundos e trêmulo, caminhou em direção a sua última esperança.

Pegou o que sobrara da calça e conforme andava, posicionava à sua frente. A temperatura era a mesma de um forno. Samuel chorava a cada passo, já que não tinha mais forças para gritar. Desculpas, mil desculpas, eu sei que errei - pensava em desespero. Com um dos pedaços da calça, ele tentou por inúmeras vezes deixar o tecido preso na grade da saída de ar. 

Não estava muito alto, mas não tinha força suficiente para pular. Após longas tentativas, Samuel conseguiu retirar a grade e antes da próxima etapa, encostou-se na parede, ficando por vinte minutos, sem se mexer, procurando não se desesperar, tentando se recuperar.

Descansado, posicionou-se para tentar entrar. Com o maior esforço ficou na ponta dos pés, aos prantos devido às dores lancinantes. Um pouco mais de esforço e ele alcança a entrada. Pausa. Volta seu esforço para subir colocando o pé esquerdo na parede para impulsionar-se. Novas tentativas. Com esforço inexplicável, ele entra e se arrasta às pressas, sentindo-se aliviado de sair daquela maldita tortura. O tubo estava extremamente abafado, ruim para respirar.

Alguns metros depois, sem ao menos perceber, já estava descendo em uma longa descida. Era um misto de sentimentos: felicidade, medo, agonia, dor. Pensou que estava indo para o depósito de lixo do hotel, mas quando seu corpo foi jogado para fora, sua última lembrança foi da grande placa de madeira com hastes de ferros pontiagudas.

Na investigação, descobriram que o hotel foi criado para “eliminar” quem cometera crimes hediondos

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