Algo Me Acompanha

    No relógio marcava 06h00. O sol havia nascido parcialmente, estava frio, mas na região era o comum.

Sonolento, Evandro levantou-se e encarou por alguns minutos a janela de frente para sua cama. Respirou fundo e levantou-se. Tomou seu banho, vestiu-se e saiu rumo a padaria, seu dia não começava sem aquele saboroso pão. Pão comprado, agradeceu ao padeiro e seguiu de volta para sua casa, que ficava a alguns metros.

Enquanto caminhava, notou que estava seguindo um rumo totalmente diferente. Não conhecia o lugar, as casas, as pessoas. Era tudo novo para ele. No mesmo instante o desespero tomou conta de si, não sabia o que fazer, para onde fugir. Olhou para os lados e teve a impressão de ver uma densa sombra o espiando em um muro, respirou fundo e tentou não se apavorar. Caminhou mais alguns metros e quando percebeu, estava no caminho de sempre. Olhou para todos os lados, reconhecendo cada casa. Seguiu às pressas para sua casa e entrou eufórico. Colocou o saco de pães sobre a mesa e foi para seu quarto trocar de roupa.

Seu café da manhã foi tranquilo, nada aconteceu. Lavou a louça da manhã e seguiu para suas tarefas matinais. Estava tudo muito tranquilo, porém um clima estranho, o ocorrido de mais cedo girava em sua mente procurando por explicações, mas nada o ajudava.

Seguiu com suas obrigações e quando se deu conta, já estava na hora de se preparar para o trabalho. Se arrumou, almoçou, fechou toda a sua casa e seguiu para seu carro.

No trajeto acontecera de novo. Estava em outro caminho do qual não conhecia, parecia nunca ter existido. Diminuiu a velocidade para quase lenta, observando cada canto. De novo, a sombra o vigiando, mas dessa vez apenas com seu único olho, em uma fresta de um muro. O olho estava fixo, apenas se movia na direção de Evandro.

— Que porra está acontecendo? Que merda é aquilo no muro me vigiando? - se perguntava mentalmente.

Parou o carro e desceu, caminhando em direção à sombra. O lugar estava completamente vazio, sem nenhum sinal de vida. Mas quando se aproximou da sombra, percebeu que estava no caminho de sempre, suspirou aliviado e voltou para seu carro e enquanto caminhava, notou que algumas pessoas o olhavam com estranheza. Dando de ombros, seguiu adiante.

Antes de voltar ao trânsito, olhou ao redor, procurando a sombra, mas nada de encontrá-la.

Logo estava em seu escritório. Seguiu o procedimento padrão e entrou. Não estava entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo. Sentou-se em sua cadeira e ligou o computador para começar o trabalho. Abriu um documento que precisaria terminar no mesmo dia e começou a redigi-lo. Em seu trabalho foi tranquilo, mas ao chegar no horário de ir embora, seu pesadelo retornou.

Trancou a porta de seu escritório e conforme andava rumo a recepção, percebeu que o ambiente transformava-se. O tapete de carpete encardido, rasgado, com mofos. As paredes ao lado de Evandro estavam completamente mofadas, com um odor insuportável. Mas cada vez que ele acelerava seus passos, o caminho se alongava, o impedindo de chegar à saída. O pânico tomara conta de si. Não sabia o que fazer, se corria mais ou se parava e esperava. Mas quando estava prestes a pegar a chave de seu escritório, o ambiente voltou ao seu normal. Confuso, olhou para os lados buscando explicação, porém só encontrou o silêncio. Respirou fundo e seguiu rumo a recepção. Como era o último a sair, tinha que fechar a empresa. Tudo foi feito às pressas.

Antes de ligar seu carro, suspirou com medo de acontecer tudo de novo, mas para seu alívio, o trajeto foi completamente tranquilo. Entrou na garagem e seguiu para seu lar. Foi direto para o banho, pois precisava relaxar sua mente. Mudou a temperatura para o mais quente, não só devido à temperatura de sua cidade, mas porque o acalmava.  Ficou por um breve tempo e mais tranquilo terminou seu banho. Ligou o som e colocou sua banda favorita. Entretido no som, preparava o seu jantar, que não demorou muito. Mas antes de sua refeição, pegara seu celular para responder às mensagens, sendo a última de seu melhor amigo, que em seguida explicou o que estava acontecendo. Seu amigo disse que poderia ser somente o cansaço. Concordou.

Durante o jantar foi calmo, nada aconteceu. Mas ao deitar-se, seu pesadelo retornara. A sensação de estar sendo observado se intensificava. Fechou seus olhos e suspirou torcendo para que seu pesadelo sumisse, mas ao abrir os olhos, não era somente a sensação que estava presente, mas sim a própria sombra o encarando. Num pulo se levantou da cama desesperado, assustado, sem saber o que fazer. Mas não importava onde ele fosse, a sombra estava lá. 

Voltou para o seu quarto e se trancou. Deitou-se, ficando debaixo de sua coberta, adormecendo tempo depois. Acordou com a sensação de que teve apenas um  pesadelo. Se levantou atordoado e seguiu sua rotina.

Já no trânsito, estava atento a cada movimento que surgia, não importava qual direção ou quem fosse. Algumas vezes se assustava com buzinas de carros e percebia que dirigia quase parando. Chegou ao trabalho esbaforido e seguiu direto para sua sala. Sentou-se na cadeira e avistou a sombra novamente, mas notou algo diferente. Percebeu que ela o imitava até nos mínimos detalhes, não importava qual movimento fosse.

 Gesticulou por vários minutos e a sombra sempre acompanhando. Logo percebeu que a sua própria mente o enganou.

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