O Jogo das Velas

 — Reuni vocês aqui porque tive uma ideia para hoje! Envolve a lenda Hyaku Monogatari - disse Yuri, olhando para as cem pessoas ao seu redor. — Formaremos um círculo e cada um terá uma vela. As acenderemos uma por uma e cada um de nós contaremos algum fato envolvendo fantasmas, apagando a vela ao término da história. Dizem que ao apagar a última vela, fantasmas serão atraídos para o local. Escolhi o hospital abandonado, já que é próximo à festa. O que acham? Aceitam participar? - perguntou ansioso e empolgado.

Antes de dizerem qualquer coisa, ficaram em silêncio, encarando Yuri, pensativos, até que uma das pessoas respondeu:

— Eu aceito participar! - levantou a mão em seguida.

E assim todos aceitaram participar. Yuri sentiu-se em êxtase. O combinado foi iniciar após a festa e que a última vela fosse apagada às 03h00. Concordaram.

À noite, por volta das 19h00, Yuri foi para a festa muito ansioso. Chegou no local, cumprimentou sua melhor amiga, mostrou-lhe as cem velas com grande animação e entraram juntos. Todos os que iriam participar confirmaram presença.

Marcando 23h30 todos começaram ir ao ponto de encontro pedido por Yuri, que já havia chegado. Não demorou muito tempo e já estavam todos reunidos, prontos para o jogo das cem velas. Caminharam por alguns metros, o hospital não era muito distante de onde estavam. Enquanto seguiam rumo ao local, as velas eram entregues para cada um.

Chegaram no hospital e com algumas lanternas foram escolher o melhor quarto que os acomodariam. Escolheram onde um dia foi a recepção e fecharam todas as portas ao redor, incluindo a do corredor, bloqueando toda luz. Retiraram todos os entulhos para abrir espaço e andaram ao redor, verificando se havia alguém mais por ali, por segurança. Formaram um círculo e começaram a acender suas velas, que levou alguns minutos até estarem todas acesas. Yuri seria o último a contar.

Uma de suas amigas começou. A história se passava na casa de infância. A riqueza de detalhes a deixaram tensos. Vela apagada, próxima história. E assim seguiu-se até a vez de Yuri, que se arrepiaram quando ele disse ser 03h00. Somente uma vela acesa, com o fogo se contorcendo a cada respiração dele.

O silêncio invadia o local, o deixando tenso, porém extasiado com a situação. Olhou para a vela por alguns segundos, com olhos fixados no fogo e logo ergueu a cabeça. Suspirou.

— Alguns anos atrás eu estava na casa de minha avó para cuidá-la - disse em tom baixo, cauteloso, porém com entusiasmo. — Ela mora em um lugar afastado, em uma chácara. Ao redor da casa possui muitas árvores, praticamente tornou-se uma cerca. Por volta das oito eu estava sentado na cadeira de balanço perto da janela, apenas devaneando. Minha avó estava dormindo - disse sentindo sua respiração acelerar.

Ao lembrar da cena, Yuri sentiu seu corpo tremer, se arrepiando completamente.

— Comecei a balançar a cadeira para relaxar, fechando os olhos, mas minutos depois comecei a escutar sons. Achei que viesse do quintal, já que algumas árvores sempre faziam barulhos absurdos. Não me importei e continuei na cadeira, tranquilo. Mas segundos depois eu senti uma mão em meu ombro e dei um pulo, quase caindo - respondeu dando uma risada fraca, lembrando-se do susto.

— Olhei para trás e não havia ninguém. Me levantei e entrei cômodo por cômodo, porém nada havia. Voltei para cadeira, com a respiração acelerada. Foi só uma sensação, mas me deu muito medo. Recostei na cadeira e fiquei atento desta vez.

Corpo trêmulo a cada lembrança.

— Fui relaxando o corpo sem perceber, adormecendo. Com os olhos ainda entreabertos, notei que havia uma pessoa na minha frente, mas quando abri meus olhos…

Antes da história ser finalizada, a última vela foi apagada mesmo sem vento algum. Todos paralisaram e se prepararam para correr. Não dava para ver absolutamente nada, teriam de ser guiados por tatos e sons. Esqueceram da lanterna.

— Quem está fazendo isso? Pare agora! Não tem graça - respondeu uma das moças.

Mas ninguém o fez, ninguém se mexeu. Ao mesmo tempo, todos olharam em direção à porta principal, notando uma pessoa coberta por um véu branco e translúcido, segurando uma vela. Mesmo com a luz do fogo, apenas enxergavam uma sombra. Cada vez se aproximava, então todos começaram abrir todas as portas, saindo um para cada lado. Exceto Yuri, que ficou paralisado, assustado, cara a cara com o que vira na casa de sua avó.

Anos depois foi descoberto que a casa teve um dono que morreu queimado em sua sala, sentado na cadeira de balanço.

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