Alimento Venenoso

No relógio marcava 00h00 quando Natacha decidiu ir para a sua casa. Estava na casa de sua amiga, que fizera uma pequena festa entre os amigos. Moravam próximas. Natacha sentia um pouco de medo da noite, porém desta vez teve de ir sozinha para seu lar.

Deu mais um abraço em sua amiga, despedindo-se dos demais. Olhou para a rua através das grades do portão e certificou-se de que estava vazia, que para ela, era mais seguro. Já na calçada, observou o movimento e estava completamente vazia à não ser por alguns gatos perambulando no local. Ela suspirou e deu seu primeiro passo, sentindo-se segura para prosseguir, indo em direção ao caminho mais rápido, uma estrada de terra, com pouca movimentação.

Estava esfriando, o outono estava dando seu lugar para o inverno. O vento que soprava sobre Natacha, guiando seu cabelo para uma dança agitada, estava gelado, mas ainda suportável. Com sua pele completamente arrepiada, acelerou os passos, torcendo para chegar logo em sua casa.

O que lhe acalmava era a luz da lua, que a guiava, mostrando o caminho, o redor, que eram somente árvores e gramas malcuidadas. Ela não olhava para nenhum lado, estava atenta apenas à sua frente, porém seus ouvidos estavam sempre atentos.

Já na metade do caminho, começa a se sentir incomodada, observada. Parou alguns instantes ouvindo estalos de galhos ao chão. Ficou parada por alguns minutos, com a mão em seu bolso, onde sempre levava consigo uma defesa. O som parara juntamente dela, deixando o silêncio retornar. Agora somente sua respiração era audível. Com o medo tomando conta de seu corpo, tornou a acelerar seus passos, já segurando sua defesa, um canivete que ganhara de seu amigo, mas logo o som retornou e mais intenso, aproximando-se dela.

Na tentativa de correr, seus braços foram agarrados para trás com força, mas Natacha tinha um pouco de noção sobre autodefesas e tentou escapar, porém, a respiração rouca do homem a assustou, deixando-a imóvel, com medo de olhar para trás e o que mais lhe assustava, era o toque frio das mãos que a prendia. As mãos estavam extremamente frias, geladas até demais para o frio que estava. Tentou escapar das estranhas mãos, mas a cada tentativa, seus braços eram puxados com força, lhe causando muita dor.

Em uma das tentativas de escapar, virou-se para trás e viu um homem pálido, de pele tão lisa que parecia um boneco de cera, seu cabelo escorria até os ombros, parecendo fogo devido aos reflexos ruivos sob a luz da lua. Sua expressão era de fúria, ódio.

Natacha se estremeceu com a raiva que refletia nos olhos daquele homem e tentara novamente sair dos braços, mas nada adiantou, ele a segurou e a empurrou até a árvore mais próxima, deixando-a cara a cara com ele. Ambos encararam olho no olho, causando pânico em nela, euforia no homem.

Sem soltar os braços dela, ele cheirou o pescoço e estranhou, mas continuou cheirando-a. Natacha, percebendo que suas pernas ainda estavam livres, tentou acertá-lo entre as pernas, mas ele foi mais rápido dando-lhe um chute nos joelhos, que a fez gritar e perder força, se apoiando na árvore. Ele a observou com sua calmaria, dos pés a cabeça, não estava com pressa para o gran finale, então resolveu aproveitar sua presa da melhor maneira.

Antes de qualquer atitude, Natacha tentou novamente acertá-lo, na canela, mas sua perna foi agarrada com as dele, ficando prensada. Ela tentou mover sua perna, porém sem sucesso. A fúria do homem a paralisava, a estremecia. 

— Me deixe ir, prometo não dizer a ninguém, nem chamar a polícia! Por favor! - disse em meio às lágrimas, sentindo o pânico tomar conta e percebendo que não conseguia sair das frias mãos.

E então o desespero tomou conta, ao escutar a gutural voz.

— Você é minha presa, meu alimento de hoje. - respondeu baforando um hálito quente e fétido.

Natacha começou a gritar o mais alto que conseguia, mas o enfureceu, enforcando-a. Ela perdeu o ar e quase desmaiou.

Ele aproximou-se dela, indo para o pescoço, passando a ponta de sua língua gélida, gosmenta, percorrendo lentamente todo o pescoço dela, sentindo seu cheiro favorito, mas de alguma forma o aroma estava diferente, sem o cheiro específico, mas sua fome estava aumentando e acabou não se importando. Sem piedade, segurou os castanhos fios de indefesa moça e puxou fortemente, inclinando-a para o lado, cheirando mais uma vez antes de se alimentar.

Natacha logo entendeu qual era a criatura que a capturou, se aliviando de imediato, pensando na sua condição, sabendo que o homem não resistiria. Fingiu pavor, fingiu chorar, implorou por sua vida, mas seu coração estava aliviado.

O homem, sem paciência de escutar os lamentos dela, cravou seus afiados dentes na carne quente, causando uma dor alucinante nela, fazendo gritá-la novamente, porém desta vez a dor era real. Quando o sangue entrou em contato com a língua fria, a criatura caiu para trás, sentindo seu corpo queimar, doer intensamente, provocando-lhe vertigem. Aos poucos sentia seu corpo morrer, não conseguindo entender o que tinha no sangue da mulher, não entendia porque a fonte de sua vida estava lhe matando.

Soltou um grito furioso, tentando agarrar Natacha, mas ela foi mais rápida dando-lhe um chute forte, que quebrara o pescoço imediatamente. Assim que caíra morto no chão de terra, o aspecto de sua pele ficou aterrorizante e aos poucos, se tornando cinzas…

O sangue de Natacha havia uma condição e nela, era a própria morte para vampiros.

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