A Decoração

 Dia 31. Outubro chegou ao fim. O que significava que a casa da esquina da rua T. teria muitos visitantes para apreciar sua decoração temática de Halloween; Era a atração mais aguardada. Principalmente por Helene.


Já estava preparando seu café, pois logo iria para o trabalho. Ligou a tevê e como de costume, deixou no noticiário. Enquanto esperava seu café ficar pronto, combinou com seu amigo de se encontrarem na casa dele antes do horário que os moradores abriam a casa para visitação, sua ansiedade era imensa. Continuaram conversando por mais alguns minutos dando palpite do tema da decoração do ano e por fim, se despediram.

Atenta a televisão, tomou seu café em silêncio, somente movendo sua cabeça negativamente conforme escutava as notícias sobre política. Logo finalizou e saiu de casa.

Helene já estava a caminho do trabalho.

Seu dia foi completamente monótono, estava acostumada. A cada tic-tac do relógio sua ansiedade aumentava. Sua noite seria exatamente de seu agrado. Ou não.

A última conferida no relógio e já indicava sua hora de ir embora. Preparou suas coisas, organizou sua mesa e se despediu dos demais.

Seguiu em direção à casa de seu amigo, que ficava um pouco distante de seu trabalho. O amigo já esperava encostado no portão, segurando duas máscaras que usariam mais tarde em uma festa. Uma era do filme Pânico, a outra, do Jigsaw.

Helene logo estacionou seu carro. Seu amigo deu a volta e entrou, sentando-se no banco do passageiro. Se cumprimentaram e seguiram rumo a casa.

A poucos metros estava a casa da esquina.

Possuía dois andares, era totalmente branca com detalhes em cinza-escuro. A fachada era completamente moderna, mas ao estilo do país de onde vieram, os Estados Unidos.

Como haviam planejado, conseguiram chegar mais cedo e antes de todo mundo. Helene estacionou um pouco distante.

Saíram do carro olhando para os lados, não queriam ser pegos. Esperaram por alguns minutos e seguiram caminho. A noite já estava surgindo, os facilitando.

O portão da casa já estava aberto, porém, a garagem estava com pouca iluminação e vazia, nem mesmo o carro estava lá, o que era muito estranho. Normalmente o carro ficava para fora, mas não estava, presumiram que não havia ninguém. Olharam novamente ao redor. Sem movimento.

Avançaram.

Ao entrarem, se arrepiaram por completo com a temperatura extremamente fria, algo inédito, principalmente estando no Brasil.

Helene foi direto em um banco branco decorativo onde havia dois bonecos cobertos por uma lona transparente e através dele dava para notar que os bonecos eram em tamanhos reais. Ambos os bonecos tinham aspecto de cera. Deixando sua curiosidade falar mais alto, tocou na lona levemente, derrubando–a sem querer, a assustando com a extrema semelhança dos donos da casa. Deu um passo para trás, observando cada detalhe dos bonecos e a cada observação, sentia seu coração acelerar.

Seu amigo se aproximou ligando um dos refletores de frente para o banco, ficou admirado com a aparência, pois realmente era idêntica aos moradores. Tocou levemente em um dos bonecos.

Era de uma mulher de cabelo grisalho curto, na altura das orelhas e ondulado, estava com uma maquiagem leve, uma sombra rosa quase imperceptível, com batom da mesma cor. Usava um colar de pérolas médias muito elegantes. Sua roupa era simples, um blazer amarelo-claro e uma calça cinza. Nos seus pés eram sapatilhas brancas.

O outro boneco era de um homem. Vestindo uma camisa social vermelha com estampa xadrez, sua calça era de um tom preto tão intenso, que dava a impressão do boneco não ter pernas. Os sapatos, de couro e muito bonito, também eram pretos.

Ambos os bonecos estavam na mesma posição: sentados com as mãos pousadas sobre as coxas, os rostos para frente. Os olhos com cores muito vivas encaravam quem estivesse de frente para eles.

O amigo de Helene ainda muito curioso, tocou na testa de um dos bonecos. Seu dedo afundou na falsa pele, lhe causando um incômodo, mas o desespero tomou conta de si ao retirar o dedo.

Um buraco estava formado e nele saía um espesso líquido vermelho. Por impulso tocou novamente no outro lado. O mesmo aconteceu.

Helene foi além, retirando seu colar, um pingente de adaga. Com cautela, foi perfurando a testa do outro boneco, que antes mesmo do pingente entrar completamente, o líquido escorreu em demasiado. Entreolharam-se por algum tempo assustados.

O rapaz afundou seus dedos sem hesitar e sua suspeita foi revelada. A moça fez o mesmo, puxando a pele para baixo, revelando que o boneco não era nenhum pouco falso. Os dois paralisaram.

Apavorados, deram alguns passos para trás. Helene tremia por completo, seu coração acelerado. Apesar de seu pavor, quis retirar mais dos bonecos para ter a certeza do que estavam frente a frente. Ela aproximou novamente de um deles, retirando totalmente a pele que ela havia puxado. Agora a aparência era de carne viva. Repetiu o mesmo no outro boneco. Agora não eram mais bonecos de cera, eram de carne. Carne e sangue.

Os olhos fixos nos dela. Os dentes extremamente a mostra, num exagerado sorriso.

Lágrimas de desespero molhavam seu rosto. Seu amigo paralisou, não expressava sentimento algum. Queria correr, mas o corpo não obedecia sua mente. Helene ajoelhou-se em desespero, tremia. Ao fundo, vozes se aproximavam, mas logo se transformaram em gritos de horror. Saíam correndo, se trombando um nos outros. O caos havia se formado.

Eles estavam de frente para os moradores da casa. A decoração feita pelo próprio filho, que fugiu pela madrugada sem nunca ter sido descoberto.

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